terça-feira, 19 de agosto de 2008

Alta e Baixa Idade Média, especialmente na França: Merovíngios, Carolíngios e Capetíngios. A Taumaturgia

Otto de Alencar Sá Pereira

A História divide a Idade Média, em dois períodos: a Alta Idade Média, do século V (queda do Império Romano do Ocidente) ao X; e a Baixa do século X ao século XV (queda do Império Romano do Oriente ou Bizantino e início da Idade Moderna, com o Renascimento).
O interessante, é que, na França, a Alta Idade Média corresponde à Dinastia dos Merovíngios. Na transição da Alta para a Baixa, encontramos os Carolíngios. E já na Baixa, temos a 3ª Dinastia dos Reis francos, ou franceses, ou de França, os Capetíngios. O mais interessante, ainda, é que os Carolíngios, descendiam, por lado feminino, dos Merovíngios, e os Capetíngios, também por lado feminino, dos Carolíngios.
O que nos leva a verificar que o mesmo sangue de Reis, reinou na França por 14 séculos, por cerca de 1400 anos. Considerando-se que a França, como Nação e Estado, tem menos de 1600 anos, o sangue dos Reis foi que verdadeiramente edificou a Pátria dos franceses. Como diz Jacques Bainville, na Introdução de sua Histoire de France: Tivemos Reis bons e maus, fortes e fracos, competentes e incompetentes, guerreiros e pacíficos. Sua realização: La France.
A Dinastia mais antiga, a dos Merovíngios, descendente de diversas tribos de reis bárbaros germânicos, estabeleceu-se nas terras da Gália (nome que Roma dava a essa sua província, depois França) com Clovis (século V) Rei dos Francos Sálicos, neto de Meroveu, (daí Merovíngios), que antes reinavam só no nordeste da França, mas, que depois, por seus descendentes, passaram a formar diversos reinos, em território gaulês, como a Austrásia, a Neustria, a Borgonha, a Aquitânia, o Orleans o Paris etc. Esses diversos reinos eram todos da família Merovíngia. Se dividiam, porque não havia ainda a Lei da Sucessão por primogenitura. Logo, quando um Rei morria, todos seus filhos herdavam, portanto o reino era dividido em vários pequenos reinos. Como tinham ainda hábitos bem bárbaros, ocorriam constantemente homicídios entre parentes, fratricídios, parricídios, e os outros muitos assassinatos, entre tios, primos e sobrinhos. Tudo isso para unificar o que estava esfacelado. De fato, entre os séculos V e VIII, a França, ora estava unificada em um só reino, ou dois, ora estava cortada em fatias diversas, em pequenos reinos. Fatos bem típicos da barbárie da alta Idade Média, onde, a cultura romana antiga, fora quase toda esquecida ou destruída (não totalmente, porque os mosteiros e conventos católicos preservaram muita coisa) e a Igreja não tinha ainda conseguido pregar a Palavra de Deus, pelo Evangelho, por toda à parte, e também o surgimento de heresias que dividiam os já cristãos e muitas vezes os Reis, que se combatiam também por motivos religiosos.
Finalmente, no reinado unificado do Merovíngio Childerico III, um seu ministro, aliás, mais do que isso, uma espécie de Primeiro Ministro, cargo de Prefeito de Palácio, Pepin o Breve (porque era baixo) ( em francês Pepin, le Bref) aproveitando uma circunstância política, que lhe era favorável, o Papa estava sendo ameaçado, da invasão de suas propriedades romanas, pelos Lombardos que já se encontravam no norte da Itália, que eram cristãos, porém da heresia ariana, propôs ao Santo Padre Zacharias uma questão: “Quem deve ser o Rei legítimo de França, aquele que simplesmente porta a coroa sobre sua cabeça, ou aquele que verdadeiramente governa?”
O Papa, para defender-se dos Lombardos, só podia contar com dois soberanos: ou o Imperador Bizantino de Constantinopla, ou o Rei dos francos! E isso porque os demais reinos da Europa, ou estavam contaminados da heresia ariana, como os próprios Lombardos ou ainda eram pagãos. O Imperador Bizantino seria o natural defensor da Igreja, mas, na época, a heresia iconoclasta, tinha tomado conta do Império Romano do Oriente. Heresia muito menos grave que a ariana, mas a Igreja a tinha condenado. Logo, esse atrito entre Roma e Constantinopla, impedia que a segunda ajudasse a primeira. Restava ao Papa pedir socorro ao Rei dos francos. Sabedor de que Childerico III não tinha autoridade, e fingindo desconhecer a carta de Pepin, para não ter que pronunciar uma sentença, escreveu, ao próprio Prefeito de Palácio, Pepin le Bref, diretamente, para não perder tempo, pedindo socorro contra a invasão lombarda. Pepin, interpretando esse pedido de socorro, só dirigido a ele e não ao Rei, como uma resposta sub-reptícia do Papa, à sua carta, depôs do trono seu primo Childerico III, colocou-o preso em um Mosteiro, coroou-se Rei dos Francos em Reims e partiu, com seus exércitos, para a Itália. Lá venceu os lombardos, e chegando triunfante a Roma, foi coroado, pela segunda vez, Rei dos Francos, pelo Sumo Pontífice, que já não era o Papa Zacharias, que havia morrido, e sim Estevão III. A esse, em gratidão, Pepin doou muitas terras, antes bizantinas, o Exarcado de Ravena, a Pentápole e outras terras em torno de Roma. Tornou o Papa não só o Soberano Espiritual da Cristandade, mas também soberano temporal de um Reino ao Centro da Itália, que chamou-se Patrimônio de S. Pedro, ou Estados Pontifícios, que duraram dez séculos. Isso tudo ocorreu no século VIII da nossa Era, dando início à Dinastia Carolíngia, pois Pepin era filho de Carlos Martel (Carolus, em latim, daí Carolíngios. Martel era uma espécie de arma em formato de martelo, martelus, em latim, marteau em francês) aquele que na batalha de Poitiers (também como Prefeito de Palácio) estancou, no Ocidente, a invasão islâmica, enquanto no Oriente, o Imperador Bizantino Leão III impedia a Tomada de Constantinopla pelos Islamitas. Estas duas vitórias cristãs, do século VIII, salvaram a Europa de se tornar muçulmana, pois o Império Islâmico, nessa época, atingira toda sua expansão e plenitude, indo do Oceano Índico ao Atlântico. Pepin, o primeiro Rei Carolíngio dos francos, foi o pai de Carlos Magno. Carlos Magno, com suas vitórias na Germânia, na Itália e na Península Ibérica reconstruiu a Idéia de Império, tanto que, chegando a Roma, foi coroado pelo Papa, como Imperador do Ocidente. Esses séculos VIII e IX, séculos dos Carolíngios, representam aquela fase intermediária entre a Alta e a Baixa Idade Média. Nesta fase os Carolíngios reinam na França, na Germânia (Alemanha e outros estados do Leste, hoje eslavos) e no norte da Itália. O século X já pode ser considerado o início da Baixa Idade Média, com o princípio do Feudalismo. Na França, os Carolíngios foram sendo substituídos por seus primos Capetíngios, aos poucos, chegou a haver momentos que o trono era ocupado ao mesmo tempo, por um Rei Carolíngio e outro Capetíngio. Finalmente em 987, Hugo I Capet, reina sozinho na França, mas em uma França já feudal, onde os descendentes dos governadores das províncias nomeados pelos Carolíngios, se tornam vitalícios e hereditários, como Duques, Marqueses, Condes, Barões ou simples Senhores. No tempo dos Carolíngios, os Duques eram Governadores de Grandes Províncias Militares (Duque vem de “Dux”, chefe militar, em latim). Os Condes governavam Províncias Internas, mais próximas da Capital, (pois Conde origina-se de “Comes”, que em latim é um comensal, do Rei). Já os Marqueses governavam as Províncias de fronteiras, de marco, que determina a fronteira (a palavra é de origem alemã, “Mark”, assim na Alemanha os Marqueses são Markgraf (Condes do marco, enquanto os Condes, são os “Landgraf” – Condes da Terra). Finalmente os Barões governam províncias menores , ou sub-províncias (a palavra Barão origina-se em Varão, homem livre “vir”, em latim, homem livre, que não é escravo ou servo; equivale ao “Freiherr”, alemão que significa também Barão ou Homem Livre). Finalmente o simples “Senhor”, ou “Herr”, em alemão: ou “Dominus”, em latim, “Dom”, ou “Lord” em Inglês, ou Señor em espanhol, Senhor em português, que vem também da palavra “Senior” “Latina”, filho mais velho, o contrário do “Junior”.
Consequentemente, estes Senhores, Barões, Condes, Marqueses e Duques, antes nomeados pelo Reis ou Imperadores Carolíngios, agora na Baixa Idade Média pela fraqueza dos primeiros Reis Capetíngios, na França e pela decadência dos últimos Carolíngios da Alemanha, formam as Senhorias, os Baronatos, os Condados, os Marquesados (ou Marcas) e os Ducados, todos vitalícios e hereditários, que possuem trono, armas (brazão), exército, súditos, etc...
Forma-se a pirâmide hierárquica feudal da Baixa Idade Média, onde no ápice está o Papa, logo abaixo dele o Imperador do Ocidente (mais tarde Imperador do Sacro-Império-Romano-Germânico), depois os Reis; abaixo de cada Rei, os seus Duques, Marqueses, Condes, Barões e Senhores, hierarquizados, pela lei da subsidiariedade, não por documento escrito, como se fossem Estatutos ou Constituições, mas sim pela palavra, pela honra, pela “Homage”, cerimônia político religiosa, na qual o Senhor aceitava ou reconhecia ao Súdito, por meio de um galho de árvore, representando sua terra, parte dela, o feudo, e o súdito colocava suas mãos entre as mãos do Senhor, proferindo o ato de fidelidade e recebendo do Senhor “l’acolage”, o beijo, em ambas as faces, como o Pai beija o filho. Entenda-se aqui, que o Senhor e o Súdito, estão presentes em todos os degraus da Pirâmide Feudal. Por exemplo, o Rei é Senhor do Duque e portanto o Duque é súdito (ou melhor dizendo, vassalo) do Rei. O Conde é vassalo ou súdito do Duque e o Duque é Senhor do Conde, e, assim por diante. (Aqui só se citando a Realeza e a Nobreza, pois abaixo delas vinham ainda os Cavaleiros, os Burgueses, os Comuns e os Camponeses. Isso aconteceu, nesses termos, de maneira igual, na França e na Alemanha). Em circunstâncias semelhantes, na Inglaterra e em todos os países do Ocidente europeu. Na França, como já foi dito, os Capetíngios substituíram os Carolíngios, no século X, mas na Alemanha os Carolíngios ainda reinaram por mais um século. Alguns Carolíngios se casaram com as famílias dos Senhores alemães; pois na Alemanha deu-se fenômeno semelhante ao da França, instituindo o Feudalismo Germânico, que chegou a ter mais de trezentos feudos. O Feudalismo Francês foi sendo durante toda a Baixa Idade Média, a pouco e pouco, vencido pela autoridade do Rei, que no princípio, no século X, assemelhava-se a qualquer outro Senhor Feudal. Houve Duques mais poderosos que os Reis. Mas as duas guerras dos cem anos, foram dando ao Rei, mais terras e portanto maior poder.
Isso tudo aconteceu nos reinados dos Capetíngios diretos, depois dos Capetíngios indiretos, chamados de Valois. Quando foi, finalmente, a Inglaterra derrotada, na 2ª guerra dos cem anos, os Reis de França já dominavam todos os Senhores Feudais da França com certa facilidade (quando salientou-se Stª Joana d’Arc). Na passagem da Idade Média Baixa, para a Idade Moderna (século XV e XVI) os últimos Valois e finalmente os Bourbon (ramo mais colateral dos Capetíngios) já estão aptos a instaurarem o Absolutismo, ou seja, autoridade suprema dos Reis, sobre todos seus súditos, sejam do clero, da nobreza e das diversas categorias do povo, como verdadeiros Taumaturgos. Os Reis sempre foram taumaturgos, pelo menos a partir do primeiro Carolíngio, “Pepin le Bref”. Os anteriores, os Merovíngios, recém convertidos ao Cristianismo, eram mais chefes militares, chefes guerreiros do que Reis Taumaturgos. Pepin, entendendo que a Doutrina Cristã, ensinava que todo o Poder se origina em Deus, e portanto, não só o Poder do Papa e dos Clérigos, mas também o do Rei, se fez coroar em Reims, como Rei de França, e depois, pelo próprio Papa Estevão III, como já vimos. A partir de Carlos Magno, também coroado em Roma, é que a Monarquia absorve do Cristianismo, a idéia da taumaturgia. Essa idéia esse caráter de origem divina, deu a Carlos Magno e a seus sucessores Carolíngios, Capetíngios Diretos, Valois e Boubons, um enorme poder. Todos, a eles se submetiam, como a um representante do Poder Temporal de Deus, daí, o dobrar o joelho, as reverências, o protocolo, os tratamentos, etc... Mas, evidentemente, esse poder temporal de origem divina, só ganhou grande força, quando foi alicerçado pelas armas, pelas terras (poder econômico) e pelas vitórias militares.
Carlos Magno tinha tudo isso, mas seus sucessores, nem sempre os tiveram. Houve grandes momentos de Poder, como, por exemplo, a implantação do Sacro-Império-Romano-Alemão pelos Príncipes da Saxônia, Otto I, Otto II e Otto III, mas houve também decadências originárias de divisões, por heranças, de guerras e traições. A França de S. Luis IX Capetíngio Direto (1226-1270) portanto século XIII, era o primeiro Reino da Europa, mas já seus bisnetos e depois os Valois, deixaram os ingleses conquistarem grande parte do Reino. A segunda Guerra dos Cem Anos, a mais conhecida com esse nome, fez da França uma só desgraça. Foi necessária a intervenção divina, com Stª Joana d’Arc, para a França coroar seu Rei Carlos VII (Valois) e restaurar sua unidade e dignidade.
Esse poder divino dos Reis atingiu com Luís XIV e Luís XV (Boubons) um exagero inconcebível. Um Duque qualquer preferia largar seu castelo e suas terras, para residir em Versalhes, em pequenos aposentos, mas perto do Rei, podendo trinchar sua carne, à mesa, ou vestir sua camisa, ao acordar. Porque o Rei era o sol de sua vida (Roi Soleil), quase um deus.
A Doutrina Católica nos ensina que todo o poder origina-se em Deus, pois só Deus é Poder, porém, no caso dos governantes temporais, sejam monárquicos ou republicanos, isto só se verifica: 1) se o governante reconhecer que seu poder vem de Deus, e através da Igreja, portanto do Papa, e do povo; 2) se houver respeito, amor e devoção do povo pelo soberano ou presidente, isto significa que Deus concede àquela pessoa o direito de governar e a Igreja o reconhece como tal. Do contrário, o Rei ou Presidente são ilegítimos. Já no Antigo Testamento Saul tinha sido ungido pelo Profeta Samuel. Anos depois, o rei estava preste a enfrentar um exército filisteu, e o Profeta não aparecia para abençoar o exército israelita. Seus generais insistiam para que o Rei começasse a guerra, mesmo sem a bênção do Profeta, e argumentavam que talvez Samuel fosse um falso Profeta. Saul respondeu: “Se Samuel for um falso Profeta, eu sou um falso Rei”. Hoje, podemos dizer, repetindo a frase de Saul dentro do contexto antes explicado 1) Se o Rei ou Presidente não reconhecer a Igreja como a representante na Terra do Poder de Deus e a ela submeter-se, esse Rei e esse Presidente, são falsos (ilegítimos) 2) Se o Rei ou Presidente não reconhecerem que seus poderes vêm de Deus, não só pela Igreja, mas também pelo amor, respeito e devoção de seus povos, também são falsos Reis e falsos Presidentes.
Os governantes governam, já diziam os medievais, “Pola Lei e Pola Grey” (Português antigo, que significa: Os Governantes só governam legitimamente, pela Lei de Deus e pela vontade do Povo.)

FIM

terça-feira, 12 de agosto de 2008

TIRADENTES

Tiradentes
Otto de Alencar de Sá-Pereira


Tiradentes é um dos mais graves enganos da História, contada a partir da república. Há algumas décadas passadas celebrava-se o 21 de abril. Nada mais justo: descobrimento do Brasil: Agora não. O 21 de abril passou há um dia qualquer desapercebido de comemoração, fazendo o povo esquecer-se da data. E aí passou-se a celebrar o 22 de abril de abril: Tiradentes! Mas, por que Tiradentes? O Império tivera, em sua história, muitos ícones a comemorar. Além de D. Pedro I, de D. Pedro II, de D. Leopoldina, de D. Amélia, de D. Thereza Christina e da Princesa Isabel, o Império tivera Caxias, Osório, Tamandaré, Barroso, Porto Alegre, Zacarias de Góes e Vasconcellos, Paraná, Paulo Barbosa, Ouro Preto, Alencar, Castro Alves, Amoedo, Gonçalves Dias, Silveira Martins, Ferreira Viana, Carlos Gomes, Mena Barreto, Pirajá, etc. etc. etc.
A República precisava também de um ícone. Deodoro... nem pensar! Arrependera-se de ter proclamado a República e era amigo do Imperador. Floriano Peixoto? Credo em Cruz! Mandou passar a fio da espada, 400 guardas-marinha da Esquadra Imperial, na Revolta da Armada. Prudente de Morais? Não. Chacinou Antônio Conselheiro e todos de Canudos. Campos Salles? Rodrigues Alves? Affonso Penna? Não poderiam servir. Antes da República, eram Conselheiros do Império. Barão do Rio Branco? Como um ícone da República pode ser um Barão? Jamais. Santos Dumont? Era amigo íntimo da Família Imperial no exílio de Paris. Oswaldo Cruz? Foi um grande médico, sanitarista, do período republicano, mas discípulo de outro médico, o Barão de Motta Maia, que acompanhou a Família Imperial, no exílio.
Marechal Rondon? Talvez, mas tinha sangue e cara de índio! Washington Luís? Foi deposto por Getúlio, não serve também. Quem sabe, o próprio Getúlio? O homem dos trabalhadores. Mas... como, ícone de uma República que se diz liberal e democrática... um ditador? Amigo de Hitler, de Mussolini e de Plínio Salgado, que, por sinal, traiu? Juscelino? Fez Brasília! Mas acelerou a inflação e tinha cara de palhaço. Também não serve. Jânio Quadros? Era louco! Mas, então quem? Não há ninguém? Será possível? Villa-Lobos? Gênio da música, mas era um boêmio. Não serve. Foram escarafunchar, na História Colonial, anterior à vinda da Família Rela Portuguesa. Beckman? Não, tem nome alemão. O Sabino, da Sabinada da Bahia? Não serve, não tem perfil de ícone. Os mais antigos? Duarte Coelho, Tomé de Souza, Duarte da Costa, Mem de Sá?
Não podem! Foram nomeados pelo Rei de Portugal e eram seus súditos fiéis. Então, quem? Havia um alferes (sub-oficial) em Ouro Preto, que foi patriota de fato. Participou da conjuração Mineira de 1789 (conhecida como Inconfidência Mineira) que queria a independência de Minas Gerais, da Coroa Portuguesa, e era republicano, e foi o único que se declarou, de fato, revolucionário, enquanto os outros negaram, em Tribunal. Os outros eram importantes, Padres, Juízes, desembargadores, poetas famosos, Coronéis, outros oficiais, etc...etc... Mas todos, ou se mataram na prisão (como Alvarenga Peixoto) ou traíram seus ideais negando sua participação na Inconfidência. Tanto que a pena de morte foi reformada em exílio perpétuo para a África (que não foi perpétuo, pois 33 anos depois, D. Pedro I proclamava a independência (não só de Minas, mas do Brasil todo) e eles puderam voltar (alguns voltaram já no tempo de D. João VI). Nenhum deles, portanto, serve de ícone republicano, mas e o alferes? Não é muito insignificante? Ainda mais que nas horas vagas era barbeiro, e como, costume da época, também arrancava dentes: “Cabelo, barba e dentes”, por favor, e o fulano sentava-se, corajosamente, na cadeira do “Tiradentes”. É insignificante e acabou louco, antes de ser enforcado. (Se é que foi, há dúvidas; como era “masson”, o teriam salvo e trocado por outro, também condenado à morte. Suspeita-se). É um simples alferes, tirador de dentes. Não faz mal. Nós o inventamos. Com quem ele precisa parecer-se? Claro! Com Jesus! O mártir da pátria! Vamos por lhe barbas (os enforcados tinham cabelo e barba raspados, antes da execução). E criar sua História” Será o Ícone da República, já que não há nenhum outro. Foi um patriota republicano. Haverá dúvida? Mas por que não agiu como os demais, tirando o corpo fora? Terá sido mesmo como patriota? Ou como irresponsável, por causa da loucura?
A conjuração, antes de ser descoberta pelas autoridades da coroa-portuguesa, ia de vento em popa, embora com tão poucos partícipes, que podiam reunir-se na sala do poeta Tomaz Antônio Gonzaga (o Dirceu da Marília). Todos eram homens de estatura alta, ou da política ou intelectual, ou militar, etc. entre os de pequena estatura, contava-se Joaquim José da Silva Xavier, o alferes, tiradentes. Era jovem, robusto e patriota (pelo menos parecia ser), logo, a figura indicada para ir, de viagem ao Rio de Janeiro, a fim de encontrar aderentes à Inconfidência. Foi mandado, quase como um moleque de recados. Como não tivesse muita instrução, nem tino político, ou lábia publicitária, fracassou. Todas as portas que visitou no Rio de Janeiro, lhe foram fechadas, ou melhor ainda, lhe eram batidas na cara. Fora! Não queremos nada com você! Fruto da revolução lá dos franceses; fora! E foram tantos os foras, que o já fraco equilíbrio psíquico do Tiradentes, tornou-se em loucura. Voltou para Ouro Preto, ou vila Rica, como também era chamada a capital da capitania. A volta foi mais dura que a vinda, pois se na vinda sofrera as agruras de viajante daquele tempo, pelo menos havia a esperança! À volta, teve as mesmas agruras, mas sem a esperança. E a falta da esperança aumentou a insanidês. Pousava em fazendas, do caminho. E nas casas-grandes dos fazendeiros, (em geral ligadas ao Marquês de Barbacena, governador das Minas Gerais), contava, à mesa, que tropas do Rio de Janeiro marchariam, em breve, para engrossar os exércitos de revolucionários de Ouro Preto, que a França e os Estados Unidos enviariam esquadras, para combater o Vice-Rei, no Rio de Janeiro, impedindo-o de ajudar o Barbacena. E assim por diante. Em cada parada, até Ouro Preto, aumentavam seus delírios. Resultado: O Marquês de Barbacena ficou sabendo de tudo, antes mesmo que o traidor Silvério dos Reis, lhe contasse. Por isso não deu guarida ao Silvério e mandou prendê-lo também. Também, porque, mal Tiradentes chegou a Ouro Preto foi encarcerado, junto com todos os outros inconfidentes, que ele havia delatado, na mais pura ingenuidade dos insensatos e loucos! Como já dissemos foram todos a Tribunal, e negaram; menos ele. O processo chegou a Lisboa e o Alto Tribunal da Corte, condenou todos à pena máxima: forca! Mas reinava em Portugal uma mulher, a Rainha D. Maria I, que ainda não tinha perdido suas faculdades mentais. E como mulher e bondosa católica reformou a sentença de morte, para degredo em Angola, menos para Tiradentes, que havia confessado o crime de lesa majestade. (Dizem que mais tarde, D. Maria I, melhor informada da insanidade de Tiradentes, reformara também sua sentença, para degredo, mas a reforma da sentença, teria chegado tardiamente, pois Tiradentes já tinha sido enforcado).
O Ícone da República, o alferes Tiradentes, é uma figura tão paradoxal, quanto à própria conjuração que se pavoneou do título de Inconfidência. Que não conhecendo bem o latim, não entendeu porque a Coroa Portuguesa chamara o movimento de Inconfidência. Porque “Inconfidere”, em latim é o contrário de “Fidere”. “Fidere é confiar”; inconfidere” é desconfiar. Ou melhor: desconfia-se de quem é traidor, inconfidente: Traidores da Coroa. Até hoje, infelizmente, em Ouro Preto , na Praça, Central, sobre o portal da Casa da Câmara está escrito “Museu da Inconfidência” ou seja: “Museu da Traição”.
Fim.

PAIXÃO E MORTE DA PRINCESA D. ISABEL A REDENTORA

Paixão e Morte da Princesa D. Isabel,
A Redentora
Otto de Alencar de Sá-Pereira


Muitos a tratam de D. Isabel I, a Redentora. Por que? Porque ela, de fato, ocupou a Chefia do Estado, reinou, como Regente do Império, por três ocasiões, nas viagens ao exterior de seu augusto Pai, D. Pedro II. Somando-se o tempo destas três regências, eqüivale, mais ou menos, a um quadriênio republicano. Além disso, ela foi nossa Imperatriz, no exílio, desde a morte de D. Pedro II em 1891, em Paris, até seu próprio passamento, em 1922, no Castelo d’Eu. Sim, ela foi nossa Imperatriz no exílio, “de jure” (de direito), uma vez que, a república, no Brasil, foi imposta por um golpe militar, que não consultou a Nação. Aliás, é o próprio primeiro decreto republicano, que institui as novas Forma e Sistema de Governo (República-Presidencialista) que o confessa, pois esta Lei (decreto nº 1 da República), declara “Proclamada provisoriamente, a República no Brasil, até sua confirmação, por “referendum popular”, e ainda diz, “como deve ser”. Ora, este “referendum” nunca aconteceu, portanto a República permaneceu provisória. É verdade, que, em 1993, graças ao Deputado Cunha Bueno, houve um Plebiscito, para o Povo escolher entre as Formas de Governo – Monarquia ou República – e entre os Sistemas – Presidencialismo ou Parlamentarismo. E a República Presidencialista saiu vitoriosa. Entretanto este Plebiscito ocorreu 104 anos depois da pseudo proclamação da República, logo, na melhor das hipóteses, a república ficou provisória por 104 anos. Por que, na melhor das hipóteses? Porque este Plebiscito de 1993 pode ser considerado inválido, por inúmeras razões, que não cabem ser explicadas neste artigo (a propósito, leia-se o livro “Diálogos monárquicos” de nossa autoria).
A Paixão da Princesa D. Isabel, popularmente conhecida como Princesa Isabel, começou cedo, logo que tomou, pela primeira vez as rédeas do governo da Monarquia, como Regente. Ela vivenciou oficialmente, o problema da escravidão, problema este que, como um espinho em seu coração, ela já sofria, desde que tomou o uso da razão. Ela sofria, mas nada podia fazer, a não ser pedir a seu Augusto Pai que alforriasse escravos ou que incentivasse o Parlamento e os Gabinetes de Ministros a produzirem leis abolicionistas. Os dois espinhos de sua coroa, que entitulamos de Paixão, foram, fora de dúvida, a escravidão e a traição com que seu Pai e toda a Família Imperial foram atingidos, pela instauração à força da República no Brasil. O problema da escravidão, ela julgou ter solucionado, pela Lei Áurea, de 13 de maio de 1888, em sua terceira Regência; mas, sem querer, com esta lei ela impulsionara a derrubada de um Império tão sólido, tão próspero e tão democrata. E às escondidas do Povo em uma noite nebulosa de 16 para 17 de novembro de 1889, a Família Imperial foi exilada, no desconhecimento total do Povo e da Nação. Estes foram os dois espinhos que, da Coroa de Espinhos de N. Senhor Jesus Cristo, implantaram-se no coração da Princesa, como uma nova Rita de Cássia. Depois do sofrimento, que durante anos agüentou pela convivência com a escravidão, o segundo sofrimento, não foi tanto à instauração da república, em si mas sim, o modo como ela foi estabelecida, pela traição. Traição à Nação, traição a seu Pai, Traição à sua Família e traição também a ela, pois a República punha em derrocada o terceiro Reinado, que seria o seu para o qual ela já tinha dado provas, mais do que cabais, de competência para exercê-lo em suas Regências.
Traição à Nação, uma vez que tratou-se de um golpe militar, no qual, a não ser a cúpula de comando, os próprios soldados, não sabiam o que estava se passando. Seria uma parada? O povo conhecia menos ainda o que ocorria. Só veio a saber, o povo carioca e fluminense, dois dias depois que a Família Imperial já tinha sido exilada. Nos outros estados (na época províncias) só semanas ou meses depois. No Amazonas, só dois anos depois. Mas houve mesmo golpe militar? Havia republicanos no Brasil? Os republicanos teriam sido os autores do golpe militar? Respondendo às três perguntas, podemos afirmar que havia uma cúpula política de republicanos. Muito poucos, entretanto, pois, apesar de possuírem um Partido Republicano não conseguiam eleger, em cada legislatura, se não, dois ou três deputados. Constataram que, democraticamente, não conseguiriam nunca instaurar a república no Brasil. Apelaram para a força. Mas que força? A Marinha e o Exército eram fidelíssimos ao Imperador. Colocá-los em confronto com a Coroa, parecia impossível. Tentaram então derrubar o Gabinete de Ministros. Seria um primeiro passo para derrubar a Monarquia. Fomentaram desavenças entre os militares e principalmente do Exército e os políticos civis. Qualquer atitude do Gabinete de Ministros, em relação a militares, era o suficiente para botarem lenha na fogueira.
O Major Fulano foi mandado para a fronteira com a Bolívia? Que absurdo! Coitado do Major! Isso é perseguição dos políticos contra os militares. Algum militar não foi promovido em tempo útil? Outra afronta contra as Forças Armadas! E as brasas da fogueira crepitaram cada vez mais! Na Marinha, quase nada. A Marinha sempre foi muito fiel à Coroa. Mas no Exército, de fato, havia problemas. Os militares graduados, que tinham voltado da Guerra do Paraguai, condecorados, intitulados Barões ou Condes, queriam participar da política. O Imperador e os políticos civis, não gostavam da participação de militares na Política. Os grandes generais, da Guerra do Paraguai, como o Duque de Caxias, o Conde de Porto Alegre, o Marquês de Herval (Osório) já tinham morrido. A figura proeminente no Exército era portanto o Marechal Deodoro da Fonseca, de família empobrecida de Alagoas, que tinha sido muito ajudada pelo Imperador. Deodoro, poucos dias antes da Proclamação da república, escrevera a um sobrinho, na Bahia: “República, no Brasil, é sinônimo de desgraça completa”. Os republicanos sabiam que só ele, o homem forte do Exército, teria meios de tornar a república, algo realizável. Entretanto Deodoro se considerava amigo do Imperador. Nunca iria contra ele. Mas, contra os Ministros, talvez, sim, pois para Deodoro, depois do Brasil e do Imperador, o que mais valia, era sua farda. Algo contra sua farda, contra o Exército, da parte dos políticos, os casacas, como ele os chamava era impensável. Os republicanos sabiam disso, e aproveitaram-se. Foram tirar da cama, o pobre Marechal, febril numa crise de erisipela, para fardá-lo, e comandar uma tropa, para vingar a honra dos militares, manchada pelo Gabinete do Visconde de Ouro Preto. Ao chegarem ao Palácio, onde ser encontrava reunido o Gabinete de Ministros o Marechal e sua tropa cercou-o e, não havendo contra-ofensiva da tropa governamental (comandada por Floriano Peixoto, que se dizia monárquico, mas era republicano, ou oportunista), permitiu que Deodoro fosse enfrentar, cara a cara, o Visconde de Ouro Preto. Se Deodoro era um touro bravio, Ouro Preto era um leão de bravura. A discussão foi violenta, e não se chegou a nada, a não ser a vitória da força bruta, (como diria La Fontaine, no início de sua fábula do lobo e do cordeiro: “La raison du plus fort c’est toujours la meilleure, nous allons montrer tout à l’heure” – a razão do mais forte é sempre a melhor, nós vamos mostrar agora), pois, ao sair do Gabinete do Primeiro-Ministro, aos berros e pondo fogo pelas ventas, Deodoro determinou: “este Gabinete de Ministros está demitido e a todos estou dando ordem de prisão.” Estava derrubado o Governo, mas não o Estado. Ou seja, o Primeiro-Ministro (Presidente do Conselho de Ministros) e os demais Ministros, mas não a Coroa não a Monarquia. Tanto é verdade que, 1º: O Deodoro autorizou o Visconde de Ouro Preto (ex Primeiro Ministro) a telefonar para Petrópolis, pedindo ao Imperador que descesse ao Rio, para formar novo Gabinete de Ministros, como exigia a “praxis” da Monarquia Parlamentar, pois o país não podia ficar sem governo. O Gabinete de Ministros tinha sido derrubado inconstitucionalmente, mas o fato concreto, é que tinha sido derrubado. 2º: Os líderes republicanos não se desligavam de Deodoro, não satisfeitos com, só a derrubada do Gabinete de Ministros, e a não derrubada da Monarquia (diga-se, de passagem, que, naquela momento histórico, se o Deodoro tivesse querido, podia tê-lo feito, e já tinham até redigido um documento de Proclamação da República, a que Deodoro, peremptoriamente, recusava-se a assinar.
Derrubado o Gabinete de Ministros, o Imperador avisado pelo Visconde de Ouro Preto, (o ex Primeiro Ministro), desceu calmamente de Petrópolis, e reuniu-se com os líderes do Partido Majoritário, na tentativa de formar um novo Governo. Era o que tinha de ser feito. Depois, o Imperador chamaria Deodoro em particular, para acertar os ponteiros; Afinal, Deodoro agira, contrariando a Lei Magna de Nação. Nessa reunião do Imperador com os Parlamentares da Situação, algum deles sugeriu o nome de Silveira Martins, mas, como o Deputado gaúcho encontrava-se junto a suas bases políticas, no Rio grande do Sul, seu nome foi imediatamente alijado. Entretanto, não sabemos por que cargas d’água?, encontrava-se no ambiente, o Major Solon Ribeiro. Talvez como oficial ajudante de ordens de algum general presente. Ele era republicano “tout court” e percebeu ali a ocasião propícia de criar um incidente, que redundasse na Proclamação da República. Por que? Ele conhecia beníssimamente a rivalidade que existia entre Deodoro e Silveira Martins. Quando Deodoro servira no rio Grande do Sul, como Comandante Militar, o Presidente da Província era Silveira Martins. Tornaram-se inimigos políticos e também rivais de relações extraconjugais. Ambos eram casados, mas ambos tinham a mesma amante e esta dava preferência ao Silveira Martins. Existia ódio entre os dois. O Major Solon elaborou então, naquele momento, em sua mente doentia, uma idéia que certamente ia provocar a Proclamação da República. Esta idéia, que ele logo a pôs em prática, era de sair dali, a todo galope, provocando o brio dos militares e principalmente, do Deodoro. Seria espalhar, como um novo Calabar, o boato fatídico que atingiria, como um dardo o coração de Deodoro. O boato consistia em dizer que o Imperador dera ordem de prisão ao Deodoro e que nomeara o Silveira Martins para Presidente do Conselho de Ministros. Quando este boato chegou à casa de Deodoro, como uma granada, explodiu. Deodoro julgando que o Imperador fizera aquilo, especialmente para feri-lo, arrancou das mãos dos republicanos, a Proclamação da República, e com ódio nos olhos, disse: “Dê-me cá esse papel” – e assinou-o. Estava proclamada a república do Brasil! – Quando a verdadeira notícia chegou, de que não havia nenhuma ordem de prisão contra Deodoro, e que o Presidente do Conselho nomeado tinha sido o Conselheiro Saraiva, Deodoro caiu em depressão, e declarou ao oficial que tinha trazido a verdadeira notícia: “Tarde de mais!” Por que tarde de mais? Comparo a posição de Deodoro, nestas circunstâncias, com o Patriarca Isaac, do Povo Hebreu, que, enganado, concedera a Benção Taumaturgica antes da morte, ao filho Jacob, em lugar de dá-la ao primogênito Esaú. Quando soube da verdade, por que Isaac não voltou atrás? Não podia, a Benção era uma só. Por que Deodoro não voltou atrás? Porque também não podia; ele, na frente de todo o grupo de republicanos históricos, dera, por escrito, naquele papel, a sua palavra final. De rancor contra o Major Sólon, ordenou que fosse ele, o encarregado de dar a notícia ao Imperador (todo este assunto, encontra-se, também mais bem pormenorizado, no Livro “Diálogos Monárquicos”, de minha autoria).
Uma mulher tinha sido o “pivô”, que impedira o Reinado de outra mulher, a Imperatriz do Brasil D. Isabel I. O Brasil já tivera três Imperatrizes D. Leopoldina de Áustria e D. Amélia de Leuchtemberg, consortes de D. Pedro I e D. Thereza Christina de Bourbon das Duas-Sicílias, consorte de D. Pedro II. Com D. Isabel I, entretanto, o Brasil teria, forçando a língua portuguesa, não uma Imperatriz, mas uma “Imperadora”, não a esposa de um Imperador, mas ela mesma a Chefe de Estado, assim como sua contemporânea a Rainha Vitória da Inglaterra, ou sua antepassada, a grande Maria Thereza de Áustria Imperatriz (Imperadora) do Sacro-Império-Romano-Alemão e “Rei da Hungria”. Ou como a atual fantástica soberana da Inglaterra Elizabeth II. Essa foi a Paixão de D. Isabel.
Retirada para o exílio junto com seus pais, teve início sua morte, que foi lenta. Primeiro com a perda de sua Mãe D. Thereza Christina, um mês apenas depois da Proclamação da República, no Porto, em Portugal. Dois anos depois, com a morte de seu Pai, D. Pedro II, em Paris, a cinco de Dezembro de 1891. Em seguida, com a renúncia de seus direitos, ao trono do Brasil de seu primogênito D. Pedro de Alcântara. Mais tarde em 1919, com o acidente aéreo que tirou a vida de seu 3º filho o Príncipe D. Antônio (que nunca se casou), seguido da morte de seu herdeiro presuntivo, o 2º filho, Príncipe D. Luiz (pai de D. Pedro Henrique, neto de D. Isabel, que a sucedeu), em 1920.
Seu espírito e seu corpo não agüentaram tantas agruras e ela veio a falecer em 1922, no ano que o Governo da República suspendera a Lei que bania a Família Imperial do território nacional. Morreu santamente, era católica piedosíssima e embora não tenha ainda sido canonizada, em caracter particular podemos rezar a ela “Sancte Isabele” “Ora pro nobis”.
Fim.

Otto de Alencar Sá Pereira

O SACERDÓCIO E O IMPÉRIO

O Sacerdócio e o Império

Otto de Alencar de Sá-Pereira

Personagens desse artigo:

1) Sua Santidade João Paulo II, O Papa da Igreja Universal, Bispo de Roma, Patriarca do Ocidente, vigário de Jesus Cristo, Servo dos Servos de Deus, Soberano do Estado do Vaticano, etc.
2) Sua Alteza Imperial e Real o Arquiduque Otto de Habsburgo-Lorena, Chefe da Casa Imperial Austríaca, Real da Hungria e da Bohêmia, da Croácia, da Eslovênia, etc (Herdeiro do Trono do Sacro-Império-Romano-Alemão, extinto, em 1805, por Napoleão com o título de Sacra e Cesárea Majestade Imperial e Real Apostólica) atualmente deputado ao Parlamento Europeu, pelo Estado da Baviera, com o nome de Dokctor Otto Von Habsburg.

Histórico do artigo

O Grande Papa Leão XIII, o Pontífice da questão operária, pela sua encíclica “Rerum Novarum”, cujo pontificado começou no início do século XIX, e terminou nos princípios do XX não foi só o Papa das questões sociais. Abordou muito, também, questões políticas, do relacionamento entre o Poder Espiritual e o Temporal, mostrando que o Poder Temporal devia guiar-se pelo Espiritual como o corpo se orienta pela alma. Não temos certeza se foi na encíclica “Diuturnum Illud” ou “Imortale Dei”, ou em outro dos seus inúmeros documentos, que Leão XIII referiu-se à Idade Média, chamando-a de “Doce Primavera da Fé”. Nela, evidentemente com outras palavras, o Papa diz: “houve tempo em que o Sacerdócio e o Império mantinham um feliz consórcio no qual, cada um cuidando de seus negócios, não deixava de entender que os temporais deviam se guiar pelos espirituais, no que diz respeito à Fé, à Moral, aos Costumes, etc” Infelizmente, as palavras de Leão XIII, como as de seus antecessores ou sucessores, nem sempre foram seguidas pelos homens, principalmente a partir do Renascimento e especialmente após a nefasta Revolução Francesa.
Opositores surgiram, a partir do século XV, e, chegando ao ápice nos séculos XVIII e XIX; seitas religiosas que se afastaram da Igreja de Cristo (Pedro, tu és pedra, e sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja); idéias que se opunham à Filosofia Cristã, e que até combatiam a Santa Igreja, em Sua Doutrina, assim com em Sua Estrutura.
Pio VI sofreu as conseqüências da Revolução Francesa, sendo até encarcerado, Pio VII teve que agüentar os insultos de Napoleão, sendo obrigado a ir a Paris, para coroá-lo Imperador dos franceses, (A Providência Divina, entretanto, não abandona seus filhos, utilizando-se até dos demônios, para defendê-los. No caso, os demônios insuflaram o orgulho de Napoleão, e esse, retirando a Coroa das mãos do Papa, coroou-se a si mesmo, Imperador dos franceses. Seu orgulho, vaidade e seu ateísmo livraram a Igreja e a Cristandade, de uma enorme e triste responsabilidade: ter coroado um soberano ilegítimo, imposto pela força das armas) Os Papas do século XIX, como Gregório XVI e Pio IX, e outros, presenciaram as seitas secretas combaterem a Santa Igreja e a estrutura das Monarquias européias, e o surgimento do capitalismo desumano e do socialismo revolucionário e do comunismo ateu.
Os Papas, nessas borrascas, não deixaram nunca de se fazerem ouvir e seguir por suas palavras, seus exemplos e principalmente suas orações. Mas o demônio, príncipe desse mundo, desde os fins da Idade da Fé, vem obtendo vitórias sobre vitórias, fazendo do homem contemporâneo, um ateu, prático ou teórico, ou a vez, as duas coisas. Quando os homens de hoje não são ateus, são inimigos de Deus e de Sua Igreja. Algumas vezes inconscientemente, a maior parte das vezes por hedonismo, procura incansável dos prazeres terrenos, vaidade, orgulho, cupidez, maldade, desse modo, deixando Deus e a Igreja de lado.
Apesar de tudo isso, a figura, a palavra e o respeito pelo Papa, não deixaram de existir.
João Paulo II, o grande Papa, que teve, ao falecer, um reconhecimento internacional de suas virtudes, de seu poder e sua importância no Mundo cristão e mesmo não cristão, não só pelo povo, vindo de toda parte, que com silencioso respeito, desfilou durante horas a fio, ordenadamente, em fila, para ver, pela última vez, o seu pai espiritual, Vigário de Cristo na Terra, em seu catafalco, armado dentro da Basílica de S. Pedro, mas também de quase todos os Chefes de Estado e de Governo, Reis, Presidentes e Primeiros-Ministros, do Mundo, prestando-lhe as últimas homenagens (deve-se aqui ressaltar fotografia que foi publicada, em primeira página, de quase todos os jornais do Ocidente: ao lado do catafalco de João Paulo II, ajoelhados em oração, o Presidente Bush dos EE. UU., sua mulher, seu pai, o Ex Presidente Bush, o ex Presidente Clinton, e a Secretaria de Estado Condolezza Rizzi).
João Paulo II (o antecessor do também extraordinário Papa, o nosso atual Bento XVI), fez em 1988, uma visita ao Parlamento Europeu. Quando estava na tribuna, falando à Europa inteira, deu-se o mais afrontoso e desrespeitoso acontecimento, ocorrido no século XX: Um deputado da Irlanda do Norte, protestante, porém provavelmente louco e fanático, exasperou-se, pôs-se de pé, interrompendo o discurso do Papa, e passou, em alta voz, a ofendê-lo, chamando-o de o Anti-Cristo.
(Napoleão, em suas vitoriosas andanças pela Europa, havia abolido o multi-secular “Sacro-Império-Romano-Alemão”, que apresentara-se nos últimos cinco séculos, por Imperadores da Casa de Habsburgo, os quais constituíram-se de 1815 a 1918, como Imperadores do Império Austro-Húngaro, mas que guardaram em face a toda a Europa, o prestígio dos antigos Imperadores do Sacro-Império).
Naquele momento ultrajante, no qual um louco herético, em 1988, no Parlamento Europeu, investe contra a Sacro-Santa Pessoa do Papa, do Vigário de Cristo na Terra, foi como se se apagassem os 173 anos, que separavam aquele momento, da extinção do Sacro-Império. Dokctor Otto Von Habsburg, ou seja, aquele que seria o Imperador do Sacro-Império, o Deputado pela Baviera, o Arquiduque de Áustria, com seus 70 anos, levanta-se do seu lugar, e, com santo furor, avança contra o autor do ultraje, “manu militari”, segurando-o fortemente pela ola do casaco, ajudado por outros deputados católicos, e colocando-o para fora do recinto violentamente. Naquele momento o Sacerdócio, ou seja, a Tiara, teve novamente a ajuda da Coroa Imperial, com todo o amor e devoção, que os Imperadores do Sacro-Império sempre tiveram, com raras exceções, pelo Papado.
A frase de Leão XIII fez-se presente naquele momento: “Feliz consócio entre o Sacerdócio o Império”. Naquele momento, voltou-se, por instantes, à Doce Primavera da Fé.




segunda-feira, 24 de março de 2008

Cultura

• Trabalho não-publicado - 01/10/2006 •

Otto de Alencar de Sá-Pereira

A Cultura só existe, onde haja o Ser Humano. O que Deus, pela natureza, cria e desenvolve não é cultura. Às vezes, é inspiradora de cultura, mas não é cultura. O reflexo na Terra, da luz do Sol rebatida pela Lua, é um fenômeno natural, portanto não é cultura. Só o é do ponto de vista científico, mas não por si só. Mas se esse reflexo for belo, nós o chamamos de “luar”, inspirador de cultura, como na “Sonata ao Luar”, de Beethoven, ou no ”Claire de Lune” de Debussy, ou mesmo nos musicais folclóricos”, “Au claire de la lune, mon ami Pierrot”, “prête moi ta plume, pour écrire un mot”, etc. ou em “O Luar do Sertão”, nordestino.
Uma montanha muito alta não passa de um amontoado de terra, de rochas, de minérios, de mato e árvores. Assim nos ensinam as ciências geológica e geográfica, que são Cultura Científica; mas não, o existir próprio da montanha que não constitui Cultura. Mas se essa montanha for mesmo dificilmente acessível, o homem cria outro tipo de cultura, que é o mito como nas religiões pagãs antigas: é o Olympo, residência dos deuses gregos; ou na Germânia o Wahalla, palácio de Wotan ou Odin, das Walkírias, dos Siegfrieds e das Siegliendes, etc.
Portanto, a Cultura, para existir, exige a presença do Ser Humano, criado por Deus, com corpo e alma. E à Sua Semelhança.
Como na Teologia, costuma-se usar o termo “União hipostática”, para as três Pessoas Divinas, Pai, Filho e Espírito Santo, de um só Deus: aqui também podemos imitar a Ciência de Deus, usando o termo União Hipostática, para a profunda essência do Ser Humano no Corpo e Espírito. União tão profunda que só se dissolve com a morte, e assim mesmo, temporariamente, pois sabemos, pela Fé, contida no “Credo”, que cremos na “ressurreição da carne” e na vida eterna”. Ou seja a reunião de nosso corpo e de nossa alma, na ressurreição, o que se chama de “Corpo Glorioso”, imune às leis da Física. Que Nosso Senhor Jesus Cristo nos deu exemplo do que seria (embora Seu Corpo Glorioso fosse infinitamente superior aos nossos, uma vez que além de homem, Ele é também Deus), pelo menos três vezes, que fiquem claras, na Sagrada Escritura: No Seu nascimento, para não ferir a Virgindade Imaculada de Sua Santíssima Mãe; na Transfiguração, onde diante de S. Pedro, S. João e S. Tiago Maior, Ele quis dar uma ligeira idéia de Sua Glória no Céu; na Ressurreição, onde Ele aparecia entre os apóstolos, mas não era só espírito, pois sentava-se com eles e comia e bebia. E finalmente na gloriosa Ascensão aos Céus. Talvez, Ele se tenha utilizado de Seu Corpo Glorioso, em outras ocasiões de sua vida terrena, ocasiões, que não ficam muito claras, na Sagrada Escritura, como por exemplo, cercado por uma multidão hostil, mais de uma vez, sumiu entre eles; ou ainda quando os esbirros dos sacerdotes judeus vieram prendê-Lo, no Monte das Oliveiras, e no primeiro contato com Ele, caíram todos por terra. Só em seguida, Ele voltou à sua humanidade, permitindo que O prendessem, pois assim era necessário para a Redenção da humanidade.
É evidente, que nosso corpo glorioso, de simples “seres humanos”, não é comparável ao de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas serve para termos uma idéia dessa “União Hipostática”, entre nosso corpo e nossa alma, que é tão profunda que só termina com a morte; e depois vence a morte mas, só a vence, pelos merecimentos que recebemos da Paixão e Morte de Nosso Senhor. Mas enfim, temos essa essência do ser humano, que chamamos de “União Hipostática” e graças a ela o homem foi capaz de realizar Cultura, no processo histórico e civilizatório, também por ele edificado, no curso de sua existência.
Expliquemos melhor: quando abordamos o “luar” e a “montanha”, vistos como “Cultura”, pelo aspecto artístico e mítico, que os homens os deram, e dissemos que a montanha e o luar, por si só, não constituem Cultura, pois na verdade eram realizações da Natureza e portanto de Deus, é preciso não esquecer que o ser humano também fez cultura quando soube explicar o que era cientificamente o Luar e a montanha. Isso porque Cultura não é só arte, mas também ciência e tudo o mais que seja criado e produzido pelo homem. Como na União Hipostática temos o conjunto de corpo e espírito, e como o espírito se manifesta por suas três potências: a Razão (racionalidade ou inteligência), a Sensibilidade e a Vontade, acontece que, às vezes, é a Razão que predomina sobre a Sensibilidade e a Vontade, e aí temos com mais facilidade os descobrimentos científicos; mas às vezes, é a Sensibilidade que predomina sobre a Razão e a Vontade, e aí temos as manifestações artísticas. A União Hipostática do Ser Humano é portanto essa união fortíssima entre o corpo e o espírito. Tão forte que marcas de beleza ou de deficiências do espírito, podem se refletir no corpo e vice-versa. No que diz respeito ao corpo, pelas características orgânicas e anatômicas do Ser Humano, aqui, agora, só nos interessa nisso em que ele pode ser alterado por virtudes ou vícios do espírito e quando declaramos que todas as ciências ligadas ao corpo, como a medicina, a biologia, a zoologia, a botânica, a mineralogia, ( o corpo humano tem elementos vegetais e minerais), etc. são também Cultura, pois foram segredos da natureza, descobertos pelo homem.
Em outras palavras, tudo o que o homem criou ou descobriu na natureza utilizando-se de sua Racionalidade, de sua Sensibilidade e de sua Vontade, ou seja, das potências de seu espírito, tudo é Cultura. Desde os rabiscos das cavernas, da Idade da Pedra, até a arte de um Leonardo da Vinci, de um Miguel Ângelo ou de um Fra Angélico, constituem Cultura. Desde a primeira pedra polida da Pré-História, sendo utilizada como instrumento, até aos fantásticos computadores atuais. Desde o sopro da flauta de Pan, até uma sinfonia de Mozart ou uma cantata de Bach ou Haendel.
Desde a embarcação fluvial construída com troncos de árvores, até aos submarinos nucleares ou naves espaciais. Desde os primeiros fonemas pronunciados, balbuciados, ou desde os primeiras rabiscos talhados que possuem algum significado literário, pelo homem primitivo, até as obras de um Homero, de um Virgílio, de um Dante, de um Racine, ou Shakesperare, de um Cervantes, ou Camões, tudo é Cultura.
Desde o tronco de árvore neolítico, feito para se assentar, até ao Trono da Rainha da Inglaterra ou as poltronas confortabilíssimas da Idade Atual Contemporânea, tudo é Cultura. O que o homem realizou, utilizando-se de suas potências, que não tenha vindo de Deus, ou da natureza, repetimos, é Cultura.
A Sociologia tem uma definição de Cultura, que é bastante boa, quase atingindo a perfeição: “Cultura é a criação, o crescimento, o desenvolvimento, o aperfeiçoamento e a sofisticação de elementos que contribuam para as necessidades básicas do homem”
Por essa definição, podemos ver que, certamente em função de sua natureza e também em conseqüência do pecado original, o homem quis crescer, quis melhorar, quis progredir, mas não por amor ao Bem, ao Belo, ao Bom, ao Certo ou à Verdade, mas sim a suas necessidades básicas, por interesse próprio. Tudo o que ele fez, o fez pensando em si próprio. É um egocentrismo congênito, que só não o possuem os Santos ou aqueles que seguem à risca os Mandamentos de Deus, as palavras de Jesus ou aos ditames da Igreja. Como esses são minoria, a maior parte da humanidade fez Cultura, construiu a Civilização e edificou a História, pensando em suas necessidades básicas. Chamamos isso, até, de comportamento natural.
Mas, que necessidade básica teria um Vivaldi, ao compor sua magnifica obra sinfônica? Uma necessidade congênita herdade dos músicos anteriores, que, por sua vez, tinham recebido de outros mais antigos, da Idade Média, e esses certamente da Idade Antiga. E os da Idade Antiga, aos primeiros músicos, os proto-músicos da Pré-história que sentiam a necessidade básica de imitar ao suave cantar dos pássaros, daí a flauta de Pan; ou imitar o trovejar das tempestades, daí os primeiros instrumentos de percussão. Mas isso é mal? Não, não é mal, por isso chamamos de natural. É bom, mas não é perfeito, por causa do pecado original. Seria perfeito se o proto-músico pré-histórico e seus seguintes, quisessem fazer música pela música, por algo que ele sentisse que tratava-se de uma virtude de Deus; e não por espírito de imitação;. Mas infelizmente, a natureza humana é assim. No campo material se faz sentir ainda com mais vigor. A alimentação é, evidentemente, a necessidade mais básica do homem. Sem comida, ele morre. Como o homem é especialmente carnívoro, ele caça para comer, mas também coleta ou colhe das florestas e plantações o seu fruto, legumes, raiz ou o seu trigo. Mas o faz por interesse próprio. Novamente nos perguntamos: é natural? Sim, é natural, mas não é perfeito. E a Sagrada Escritura nos dá uma lição, logo no primeiro Livro do Antigo Testamento: No “Gêneses”.
Por que Caim matou Abel? Por ciúmes. As ofertas das gorduras animais que Abel fazia a Deus como pastor eram mais bem recebidos pelo Senhor, do que as ofertas vegetais de Caim. Como coletor agrícola. E por que? Porque Caim guardava para si os melhores produtos agrícolas e oferecia a Deus, o refugo. Abel fazia o contrário. A fumaça do altar de Abel subia aos céus, o de Caim se dispersava.
A palavra de Deus não se discute. Terá sido assim, ou foi uma lição que o próprio Deus quis nos dar para mostrar-nos que nossas primeiras necessidades básicas, sejam materiais, espirituais, intelectuais ou práticas devem ser dirigidas a Ele, e só depois a nós mesmos?
O fato é que essas necessidades básicas dirigidas por um pendor, mais perfeito, ou não, foram elaboradas pelas Potências do Espírito Humano, pela Racionalidade, pela Sensibilidade e pela Vontade. Abordemos, um pouco, essas potências do espírito humano, para que possamos entendê-las melhor:
A Razão ou Racionalidade
A Racionalidade ou Razão, confunde-se, às vezes com a Inteligência. Mas, elas não são a mesma coisa. A Razão supõe anteriormente a Inteligência, embora ela seja mais importante. A Inteligência originou-se do verbo latino “intelligere”, que significa captar. A Inteligência capta as idéias, as impressões, etc, mas não as combina., Quem as combina é a Racionalidade. Como na Física: temos a força A, a força B, a força C, independentes. De repente essas forças se chocam. Esse chocar de forças resulta em uma outra força, que é chamada, pela Física, de “Resultante”. Assim, as idéias ou impressões, captadas pela Inteligência, ao se chocarem, não resultariam em nada (como nos irracionais), se não houvesse a Racionalidade. Essa Potência Racional aproveita esse choque, e dele, tira conclusões que são as resultantes, ou sejam os Raciocínios. Esses só existem graças à Racionalidades e não graças à Inteligência. Por isso, o ser humano é chamado de “animal racional”.

Sensibilidade
É a potência dos sentimentos, dos sentidos, da sensualidade, etc. É portanto bastante abrangente: é um leque aberto que parte dos simples sentidos, visão, audição, tato, paladar, etc. E chega, em uma ação ascendente, bastante escalonada, aos mais altos sentimentos: de amor, de caridade, de desprendimento, de amor ao próximo e de amor a Deus. (O eros e o ágape expostos por Bento XVI em sua encíclica, “Deus caritas est”). É na Sensibilidade que se encontra o que há de mais sublime no Ser Humano: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. Contido no 1º Mandamento da Lei de Deus, do “Livro do Gênesis”, no Antigo Testamento. Ou de igual grandeza e importância, contido no Novo Testamento, pela Palavra de Jesus Nosso Senhor no Evangelho: Não há maior amor do que aquele que dá a vida pelo irmão”. Sim, porque aquele que dá a vida pelo irmão, é movido por um amor tão grande, que só pode ser o Amor a Deus ou a um valor que seja de Deus. Como diz S. Thomas de Aquino: “Aquele que ama a um valor mais alto, mais que a si próprio, adquiriu o estado de graça, semelhante ao do Batismo, pois esse valor mais alto só pode ser Deus, ou alguma Virtude Divina”. Em outras palavras: se um músico ama a Música mais do que a si próprio, ao ponto de dar sua vida pela música, na realidade, ele ama a Deus mais do que a si próprio, pois essa música que ele ama é uma das virtudes do próprio Deus. Entretanto, a Sensibilidade pode também se fazer sentir, por sensações de baixa escala, ligadas geralmente ao sexo promíscuo, o eros mal entendido. Por isso, a Sensibilidade necessita ser dirigida pela Racionalidade. Assunto que será estudado no ponto referente ao “Equilíbrio das Potências do Espírito”. (Esse amor, seja sublime ou não, é magnificamente explicado, com os nomes de “ágape ou eros” na Encíclica “Deus Caritas est”, do Santo Padre Bento XVI).
A Vontade
É a Potência da Liberdade humana, do Livre Arbítrio, na qual o ser humano escolhe. Escolhe entre uma coisa ou outra. Escolhe entre ir ou vir; entre entrar ou sair; entre subir ou descer; entre amar ou odiar; entre estudar ou vagabundear; entre “ser” ou “não ser”, “to be or not to be”. Enfim, escolhe entre o bem ou o mal, entre o Céu ou o Inferno.
É a Potência do Alvidrio, da Liberdade, dada ao homem por Deus, durante toda a sua vida, para ele se decidir. Deus não o abandona, concede graças mas depende do homem saber aceitar e aproveitar essas graças. Como diz S. Paulo: “Tenho medo do Cristo que passa e não mais volta”.
Essas três Potências do Espírito, Razão, Sensibilidade e Vontade, como já dissemos, vão ser os elementos dinâmicos da Cultura, da Civilização, da História. Se bem equilibradas e atentas às graças de Deus, realizarão sublimidades. Se mal equilibradas, desatentas à própria existência de Deus, permitirão horrores, guerras, genocídios, estupros, monstruosidades, etc...
Entretanto, antes de estudarmos esses equilibrios ou desequilíbrios das Potências do Espírito, lembremos que essas Potências do Espírito unidas ao Corpo Humano designamos de “União Hipostática”, a Essência do Ser Humano.
Por que esse nome? Sabemos que “hippo” é cavalo, em grego. Daí o hipódromo, lugar onde os cavalos correm. O “hippo” ligado ao “stat” do verbo “stare”, latino, que significa “estar sobre”( daí o “stand” da língua inglesa), resultou a palavra “Hipostatica”, ou “estar sobre o cavalo”. É um termo medieval. Na Idade Média, “ o cavaleiro andante”, “o cavaleiro feudal”, usava uma tal parafernália de armaduras de ferro: elmo, para a cabeça, a couraça, para o tronco, as perneiras, para as pernas, e ainda as armas etc... que isto tudo junto, representava enorme peso. Considerando-se que o cavalo, de raça “percheron”, gigantesco, também se cobria com uma malha de ferro, o peso tornava-se tão grande que um cavaleiro sozinho não conseguia montar em seu corcel. Precisava do auxílio de um ou dois escudeiros ou “valets”, para realizar a façanha. Uma vez, montado, ou melhor, encaixado na sela, tornava-se uma potência militar, o tanque da Idade Média, só comparável a outro cavaleiro de semelhante postura. A União Hipostática entre cavaleiro e cavalo era inseparável. Quando, de lança em riste, os dois cavaleiros se chocavam, era a explosão atômica medieval. Se um dos dois caísse, não estava só derrotado, mas praticamente morto, pois, mesmo que não morresse da queda, seu adversário aproximava-se dele, que estatelado no chão, não se mexia, por causa da queda e também pelo peso da armadura, e terminava seu trabalho, enfiando-lhe a lança, geralmente no pescoço, parte do corpo que ficava desnuda, para facilitar o movimento da cabeça.
Assim a União Hipostática do cavaleiro e do cavalo, representavam algo quase compacto, impossível de se desunir.
Por essa razão, a Teologia e a Filosofia Medievais, pediram emprestado, aos costumes da época essa palavra, para indicar a indissolubilidade quase perpétua entre corpo e espírito. O corpo, com suas características anatômicas e orgânicas humanas; e o espírito com suas importantes Potências: A Racionalidade, a Sensibilidade, e a Vontade. O equilíbrio, antes mencionado, dessas Potências, é o fator principal da dinâmica que elabora a Cultura Positiva. Porque pode haver também Cultura Negativa. A Cultura é positiva quando traz o bem à Humanidade. Ela é negativa quando proporciona o mal. E ela é negativa, quando é produto dos desequilíbrios das Potências mencionadas.
Vejamos, agora, como se dá o equilíbrio e como acontecem os desequilíbrios. É preciso que entendamos, que os termos, por nós aqui usados, ao explicarmos o equilíbrio e os desequilíbrios, são simples, pois são para a compreensão de jovens alunos, pois este artigo, só tem pretenções de simples apostilha universitária. Dito isso: então vejamos: O Equilíbrio representa a comunhão entre a Razão e a Sensibilidade. Seria como se a Razão aconselhasse a Sensibilidade e essa ponderasse sobre a Razão. Dessa comunhão haveria algo de tão bom, que a Vontade, inebriada de prazer, aderisse inteiramente e realizasse o ato. E assim o Bem se produziria e atrás desse Bem, toda uma Cultura Positiva.
Entretanto, existem os desequilíbrios. – O primeiro tipo: seria a Razão influenciar a Vontade, quase anulando a Sensibilidade. Exemplo: Um Pai de Família que implantasse em sua família uma disciplina rigidíssima, onde não houvesse perdão nem complacência e portanto não houvesse amor, para nenhuma atitude abusiva ou discordante de um filho. Se nós dermos uma dimensão maior para esse Chefe de família, teremos um ditador nazista, fascista ou comunista, com uma cauda de atitudes de Cultura Negativa. Assim como o Chefe de Família teria usado de suas idéias perversas, racionalidade fria, sem nenhum tempero de boa vontade ou de amor, assim também os ditadores fascistas, nazistas ou comunistas, usariam de racionalidade maligna, como por exemplo, a superioridade de uma raça, com exclusão das outras, do direito de existência. Como o horror do holocausto dos judeus, praticado pelos nazistas. No comunismo, também. Embora tenha nascido de “pseudos equilíbrios” entre “capital e trabalho” sabemos que partiu de uma reação forte contra outro desequilíbrio, que consistia no capitalismo ateu inicial, onde também nãos se levava em consideração as necessidades dos mais pobres e operários (ausência de sensibilidade). Esse capitalismo causa a reação chamada socialismo e comunismo, com revoluções, atitudes violentas (tanto dos revolucionários socialistas quanto dos patrões e entidades estatais capitalistas) e até guerras, deportações, fuzilamentos, etc. Desequilíbrios, onde uma razão dominante exclue qualquer sentimento de solidariedade, de amor, de caridade. Onde a razão dominante cria doutrinas que não levam em consideração a alma, a caridade, o amor, os direitos humanos, mas somente uma pseudo justiça, fria e implacável. Os comunistas também usavam seus campos de concentração, na Sibéria, para os não comunistas.
O Segundo Desequilíbrio seria aquele no qual a Sensibilidade, uma Sensibilidade Mal Orientada, comandasse a Vontade, anulando praticamente a Razão. No campo do convívio social comum, do povo simples, podemos supor uma Mãe de Família, viúva pobre, que tem que se desdobrar para sustentar a família. Um coração enorme, de mãe extremosa, mas uma quase total ausência de racionalidade e cultura, para educar a filharada. Sem a orientação racional, com uma religiosidade confusa, onde só de destacam os sentimentos, a Mãe de Família, passa a mão na cabeça de seus filhos, principalmente dos homens, permitindo, sem querer, que os meninos tornem-se moleques, que os moleques venham a ser pivetes e esses, por sua vez, marginais. Quando o filho marginal vem a se tornar assassino, aí a Mãe acorda! Onde errei?! Desde a primeira traquinagem, não corrigida, como matar um passarinho com estilingue, e muitos outros pecadilhos, passados em brancas nuvens. Dir-se-ia que a culpa é do Estado. Claro que é. Mas foi o Estado, justamente, que movido politicamente, pela mesma forma de desequilíbrio, o autor dessa massa humana, pobre, desabrigada, inculta, irracional, onde só a sensibilidade atua, principalmente a má sensibilidade que movendo as paixões mais baixas do ser humano, proporciona crimes e pecados geralmente ligados a drogas, à perversão sexual e ao sexo promíscuo. Expliquemos melhor a culpa do Estado, do Governo, nesses assuntos. O Estado foi movido também por essas formas de desequilíbrios? Sim, a Sensibilidade anulando a Razão, e portanto a ética, o pudor de bem governar anulando a honestidade e proporcionando a corrupção descabida que constatamos hoje (e não só de hoje) entre os governantes, particularmente do nosso Brasil. Mas que Sensibilidade é essa que causa tanto mal? Quando, linhas acima, abordamos a Sensibilidade, mostramos que ela é muito abrangente, como um leque aberto, que parte dos simples sentidos e por uma escala ascendente, alcança os mais altos e sublimes sentimentos.
Entretanto quando há essa forma de desequilíbrio, onde a Sensibilidade anula a Razão, essa Sensibilidade pode ser do tipo baixo dos sentidos e do sexo descabido, ou o desequilíbrio da boa Sensibilidade, que abordaremos, em seguida. No primeiro caso, que estávamos tratando, antes um Governo que se permita ser orientado por uma má Sensibilidade, anulando o que é racional é aquele Governo onde a sensualidade desorientada, o orgulho e a vaidade, e a paixão irregular pelo poder, e a ambição pelo enriquecimento ilícito predominam. Mas, dir-se-á, esses são pecados e crimes! Sim, é verdade, mas, todos pecados e todos crimes são movidos pela Sensibilidade desregrada.
A Sensibilidade boa que também pode sofrer um processo de desequilíbrio, não orientado pela Razão, é caso raro, mas pode acontecer. Às vezes ocorre entre os Santos. Alguns Santos quando são movidos por um amor a Deus desmedido (Sensibilidade sublime), às vezes, cometem ações não orientadas pela Razão. S. Francisco de Assis, logo no início de seu processo de santificação, quando foi tocado pela graça de Deus, ainda jovem, não entendeu bem o espírito de pobreza evangélica, e, como um louco santo passou a distribuir, entre os pobres, os bens de seu pai, não tomando em consideração o 7º mandamentos da Lei de Deus (não furtarás), pois ele furtava do pai para distribuir entre os pobres, seus dinheiros e mercadorias; pois seu pai era negociante rico. Estaria S. Francisco pecando contra o 7º mandamento? Certamente que não! Ele foi só vítima de um Amor tão grande, tão grande, a Deus que desequilibrou as potências do Espírito, fazendo o amor enorme, tornar-se irracional. É claro que o amadurecimento de seu processo de santificação, corrigiu em tempo, esses desequilíbrios. Foi um desequilíbrio, onde o gigantesco Amor e Sensibilidade não consideraram a Racionalidade. Esse desequilíbrio inicial logo tornou-se equilíbrio, e S. Francisco conseguiu do Papa Inocêncio III a criação de sua Ordem que tinha como uma das principais características a pobreza, e por isso a Ordem Franciscana é até hoje conhecida como Ordem dos Padres Menores. A Ordem dos Frades Menores e todas suas realizações, no Mundo inteiro, durante esses oitocentos anos de sua existência, foi fruto do equilíbrio das potências do Espírito, visando o apostolado e a santificação. É portanto uma fantástica obra de Cultura, aqui no caso, particularmente, Cultura Religiosa. Mas não só Cultura Religiosa. Veja-se a Cultura Artística, na música, na literatura, na arquitetura (os magníficos conventos: no Rio, temos um exemplo fantástico no Convento de Stº Antônio, localizado no Largo da Carioca). - Quando definimos o Equilíbrio das Potências do Espírito e dissemos, em linguagem simples, que a Razão orientaria a Sensibilidade, que essa ponderaria sobre a Razão e que se processaria uma comunhão das duas potências, tão boa, tão agradável, que a Vontade inebriada, aderiria e realizaria o ato quizemos mostrar que esse ato seria excelente e produziria Cultura Positiva.
Andamos, depois dessa definição, abordando os desequilíbrios, com suas Culturas Negativas, chegamos a ver uma exceção curiosa, que teria sido o desequilíbrio santo da juventude de S. Francisco de Assis. Mas voltamos ao Equilíbrio, e sublinhamos a Cultura Religiosa da Ordem dos Frades Menores.
Devemos entretanto, considerar que, na Cultura/religiosa, evidentemente não se salientou só a Ordem Franciscana, e sim toda a Igreja, tanto no Clero Regular (Ordens Religiosas) quanto na clero Secular (os Padres Diocesanos).
E devemos também considerar, que o Equilíbrio das Potências do Espírito, no criar Cultura Positiva, não se limitou à Cultura Religiosa, embora essa seja a mais importante, já que a alma é superior ao corpo (como nos ensinou Leão XIII, em sua encíclica “Immortale Dei” e muitos dos seus predecessores, como S. Gregório VII, Inocêncio III, Beato Pio IX e quase todos os Papas) quando mostram a superioridade da Igreja sobre o Estado).
Temos também muitas outras formas de Culturas, como por exemplo a Cultura Teológica, Filosófica, a Política, a Social, a Cultura Científica, a Artística, a Folclórica, a Histórica, a Geográfica, etc... Mais modernamente a Cultura Informática e tantas outras. Todas elas Culturas Positivas, se não permitirem algum desequilíbrio das Potência.
A CULTURA DA IGREJA
O Principal exemplo, em toda a História da Humanidade, de Cultura Positiva, é a Santa Igreja, fundada pelo próprio Verbo de Deus encarnado, a 2ª Pessoa da Santíssima Trindade , o Filho , o Messias, o Redentor. Nosso Senhor Jesus Cristo, na pessoa de Pedro. – “ Pedro tu és pedra e sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja” – “Dou-te as chaves do Reino dos Céus, os pecados que aqui perdoardes, lá serão perdoados, os que aqui retiverdes, lá serão retidos” – “O que dizem quem Eu sou? – responderam os Apóstolos: uns dizem que sois João Baptista ressuscitado, outros dizem que sois Elias, e ainda outros, que sois Isaias ressuscitado. E vós, que dizeis? Respondeu-Lhe Pedro: Tu és o Cristo, o Filho de Deus Vivo! Bendito sejas tu Pedro filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te inspiraram, mas o próprio Espírito Santo, e, portanto te digo Pedro tu és pedra... (etc como está em cima)” – “Pedro, tu me amas? – Vós o sabeis, Senhor, que Vos amo. Apascenta as minhas ovelhas. Pedro, tu me amas? – Já Vos disse Senhor, eu vos amo enormemente . Apascenta as minhas ovelhas. Pedro, Tu me amas? Senhor, Vós duvidais? Eu Vos amo acima de tudo! – Apascenta as minhas ovelhas”. (Por que três vezes? A pergunta seria proposta pelas Três Pessoas da Santíssima Trindade?) Estas frases, encontradas nos Evangelho, e ditas por Nosso Senhor, fundaram a Igreja, confirmada depois no Sacrifício da Cruz, e finalmente no Pentecostes.
Depois, foi a difusão da Doutrina, pelos Apóstolos, a escolha de Roma como centro da Cristandade, por S. Pedro e S. Paulo, onde morreu um, crucificado, de cabeça para baixo e o outro, decapitado. O crescimento da Igreja pelo mundo todo, nesses 2000 anos de Sua existência, difundindo a Palavra de Deus, o Caminho, a Verdade e a Vida, desenvolvendo a Caridade, a Fé e a Esperança. A Esperança, principalmente no Reino de Deus (que é o pedido no Pai-nosso “venha a nós o Vosso Reino”) que é o mesmo Reino de Maria (anunciado por Nossa Senhora aos videntes de Fátima: “No fim o Meu Imaculado Coração triunfará”). A Santa Igreja espalhou por todo o orbe, não só a Religião de Jesus Cristo, mas seus corolários, que constituíram os aspectos mais brilhantes de todos os aspectos de Cultura: a Filosofia e Teologia de São Thomaz de Aquino e seu seguidores as catedrais, e castelos góticos, outros estilos arquitetônicos, como o romanesco, o clássico, o barroco, etc. O canto Gregoriano os grandes poetas e músicos e artistas plásticos, cristãos, como um Dante, um Camões, um Shakespeare, um Corneille, um Bach, um Haendell, um Mozart, um Vivaldi, um Leonardo da Vinci, um Fra Angélico, um Miguel Ângelo, um Rafael, um Caravaggio, um Tiziano, etc, etc. para só citarmos os maiores. Não nos esquecendo da vida espiritual, vivida, ensinada e praticada pelos Gigantes da Igreja, que foram seus Santos: S. Pedro e S. Paulo e os Apostólos, Stº Estevão Martir, um Stº Atanásio, um S. Basílio, um Stº Agostinho, um São Boaventura, uma Stª Mônica, Santa Inez, Santa Rita de Cássia, um S. Francisco de Assis, um Stº Antonio. Reis Santos, como um S. Luiz IX de França, S. Fernando III de Castela, S. Leopoldo de Áustria, Stº Eduardo da Inglaterra, Stº Henrique da Alemanha, Stº Estêvão da Hungria, S. Wenceslau da Bohêmia, S. Casimiro da Polônia. Os grandes fundadores de Ordens. Além de S. Francisco com os Padres-menores, os Beneditinos de S. Bento, os Dominicanos de S. Domingos, os Agostinianos, um Stº Ambrósio, um Stº Alberto Magno, o Grande S. Thomaz de Aquino, uma Santa Filomena, S. Cosme e S . Damião, Stª Thereza d’Ávila, um Stº Ignácio de Loyola, S. Francisco Xavier, S. Luiz Gonzaga, Stº Stanislau Kotska, Stº Expedito, S. Gonçalo Garcia, S. Paulo Miki e os Martires do Japão, S. João Bosco, S. Francisco de Salles, Stº Affonso de Ligorio, Stª Bernadette Soubirou, S. Pio V, S. Luiz Maria Grignon de Montfort e muitos outros, centenas milhares ou milhões, canonizados ou não, que espalharam a cultura religiosa católica, nos cinco continentes, mudando o mundo pagão, em mundo cristão.
Contudo, outra Cultura, que aqui deve ser desenvolvida é a Sócio-Política. Sim, porque aquele mesmo Ser Humano, essência da União Hipostática do corpo e espírito, com suas Potências, já fartamente citadas aqui, Racionalidade, Sensibilidade e Vontade, esse Ser Humano, foi também definido, tanto por Platão, como por Aristóteles, como “Animal Político”. Por que “Animal Político”? Porque faz política? Sim, mas antes disso, porque vive na “polis”, (cidade ou sociedade). Essa “polis”, organizada, vem a constituir o âmago, da Cidade organizada por leis e governantes, a origem das Nações e dos Estados. É ai que o “animal político” passa a fazer política (onde deve existir também e especialmente, o equilíbrio das Potências do Espírito). Para entendermos esse “animal político”, temos que, mais uma vez, voltarmos ao Ser Humano aqui visto como “Pessoa ou Indivíduo”. Em linguagem corrente, pessoa ou indivíduo se identificam. Mas, mesmo nessas ocasiões, digamos populares, quando alguém é apontado como uma Pessoa, essa indicação é elogiosa. Quando entretanto, é chamado de “indivíduo”, apresenta-se aqui logo algo de pejorativo. Qual seria a diferença entre indivíduo e pessoa? Para começar, chocando o leitor, podemos afirmar, que o indivíduo não existe. Então, para que estudá-lo? O que seria o indivíduo? – O indivíduo seria o Ser Humano, observado só por suas características endógenas (hereditárias e de dons gratuitos), sem nenhuma influência externa, de fora dele. O que evidentemente é impossível! Seria, como que um Ser Humano criado em proveta e guardado em redoma. Seria quase como um “robot”. É importante estudá-lo, pois o seu coletivo, constituiria a Massa. O Santo Padre Pio XII tem um interessantíssimo pronunciamento , se não nos enganamos, à imprensa, em que ele distingue a diferença entre “Povo e Massa”. O pronunciamento do Papa foi muito importante, porque em sua época, vários ditadores de direita ou de esquerda, transformavam o Povo em Massa – Como o indivíduo não existe, a Massa também não existe, ou melhor, só existe pela força bruta ou pela lavagem cerebral. A Massa seria um conjunto de homens-robots que, virariam para a direita ou para a esquerda, olhariam para a frente ou para o lado, pensariam dessa ou daquela maneira, a partir de uma ordem do ditador ou de se acionar um botão. O povo russo, quando findou-se a União Soviética, ficou num estado tal de euforia que tudo o que havia no Capitalismo Ocidental entrou em rebordose na Rússia. Tudo o que havia de bom, mas infelizmente, também tudo o que havia de mal. Foi um verdadeiro carnaval de liberdades e de libertinagens, que, em certo ponto, ainda existe até hoje. A massa voltou a ser Povo, os indivíduos voltaram a ser Pessoas.
Então, o que será a Pessoa? Esta, é o Ser Humano verdadeiro, composto não só de categorias endógenas (hereditárias e dons gratuitos)_ mas também e principalmente de categorias ou influências exógenas, de fora deles, de caráter físico ou social. Ou seja, a Pessoa Humana, em sua formação, constitue-se de sua herança genética (endógena), de seus dons gratuitos (também endógenos, como por exemplo, certas vocações especiais. Beethoven nasceu em uma família de funcionários públicos, sem a menor tendência para a música, ele entretanto recebeu, de Deus, esse dom gratuito, que, evidentemente pôde desenvolver, porque nasceu em Bonn e educou-se em Viena. Se ele tivesse nascido no Congo, do século XIX, e recebesse o mesmo dom gratuito, não teria composto, é lógico, toda a sua fantástica obra sinfônica de concertos e sinfonias e sua obra pianística de sonatas, etc, mas, com toda a certeza comporia batuques e outros ritmos africanos, com genialidade), mas constituem-se também de suas influências exógenas. Como já dissemos, estas influências podem ser de caráter social ou físico Caráter Social: um Ser Humano, nascido no Brasil, pela influência da sociedade, vai falar a língua portuguesa, vai gostar de futebol, vai gostar de carnaval, vai ser cristão (talvez não católico, como seria se tivesse nascido antes da II Guerra Mundial), vai ter características de bondade, de ingenuidade, de convivência agradável, não será ambicioso, etc (evidentemente estamos enumerando a grande maioria do povo, embora haja exceções). Nestas influências, naturalmente, há variações, riquíssimas de modalidades que esse Brasil continental apresenta no povo brasileiro, sotaques diversos, desde o gaúcho, ao paulista, desde o carioca ao baiano, desde ao pernambucano ou maranhense, etc... Têm sotaques diferentes, alguns hábitos e costumes bem diferenciados, culinárias de gostos diversos, etc, etc... mas, todos falam o português, gostam de futebol e carnaval e são cristãos.
Caráter Físico – embora pareça estranho, o meio ambiente físico, contribue também muitíssimo, na formação da Pessoa. Quem nasce em região montanhosa tem características bem diversas daquele que teve seu berço na planície e ou junto ao litoral. A diferença entre o carioca e o paulista é frisante. Por causa das praias e clima, do Rio de Janeiro, o carioca, sem dúvida, tem menos ânimo para o trabalho, do que o paulista. Entretanto o paulista, depois de trabalhar incessantemente, durante o dia, quer descansar e divertir-se à noite, daí a vida noturna paulista, ser bem mais intensa que a carioca.
Este exemplo entre o carioca e o paulista, pode ser repetido em outras condições, pelos nascidos nas mais diferentes regiões do Brasil-Continente.
Não vale a pena ficarmos repetindo inúmeros desses exemplos.
Seguindo o pensamento, tínhamos visto que o coletivo do Indivíduo é a Massa. Qual então o coletivo da Pessoa? É o Grupo Social. Esse Grupo Social é mesmo a célula da Nação. Ele apresenta-se com inúmeras facetas: grupo social familiar, grupo social de estudantes, grupo social de trabalho; militar; religioso; artístico; profissional; etc. São inúmeros os tipos de Grupos Sociais, mas, o interessante, é que uma mesma pessoa pode pertencer a todos eles, ou a quase todos, ao mesmo tempo.
O conjunto desses Grupos Sociais constituem a Nação. Porém, estes Grupos Sociais, para constituírem uma determinada Nação, precisam de características semelhantes: a mesma língua, a mesma raça, a mesma religião, os mesmos aspectos psicológicos, as mesmas tradições, costumes e o Patriotismo, amor a Pátria, etc. Evidentemente não é obrigatório que todas essas características apareçam sempre, em cada nacionalidade, mas algumas são imprescindíveis. Ex.: No Brasil fala-se o português, do Amapá ao Arroio Chuí; do Acre ao Rio Grande do Norte, ou seja, de norte a sul, de oeste a leste. Não temos a mesma raça, nem a mesma religião, mas sim a mesma História, as mesmas tradições, características psicológicas e principalmente o patriotismo. Não só no Brasil, alguns elementos diferentes, também ocorrem em outra nações. Só como um exemplo, no Reino da Bélgica, o povo fala duas línguas, o francês e o flamengo e ainda vários dialetos. Portanto nem todas as nações têm estas mesmas características sempre presentes, mas tendo algumas importantes, já podem considerar-se uma nação, principalmente o patriotismo. É por isso que, podemos afirmar, sem medo de errar, que no século XVIII, o Brasil já podia ser considerado uma Nação. Durante as invasões holandesas, no Nordeste brasileiro, quem expulsou os holandeses, não foram portugueses ou espanhóis ( o Brasil esteve sob o poder dos Reis de Espanha, por causa da União Ibérica, de 1580 a 1640) e sim brasileiros: brasileiros brancos, brasileiros índios, brasileiros negros e brasileiros mestiços, todos unidos por uma causa comum, o patriotismo. Não éramos ainda um Estado, no século XVII, mas já éramos uma Nação. Por que não éramos ainda um Estado? Para entendermos esse ponto precisamos abordar os Elementos Básicos da Nacionalidade para, por meio deles, chegarmos ao Estado.
Esses Elementos Básicos da Nacionalidade compõem-se de três: o Elemento chamado Povo; o Elemento chamado Terra, e finalmente o Elemento intitulado de Instituições.
primeiro Elemento, o Povo, é aquele que acima vimos: grupos sociais reunidos, contendo características comuns. Porém, esse Povo precisa residir em algum lugar; e aí temos o segundo elemento, - a Terra, que é o território Geográfico onde vive o povo da Nação. Esse Território não precisa ser determinado ou mensurado, por seu tamanho ou por sua continuidade. Existem Territórios enormes, como Brasil, EE.UU, Rússia, China, existem Territórios Grandes, como Argentina, Alemanha, França, Peru, etc. Existem os pequenos como a Bélgica, a Holanda, Portugal, Costa Rica, Honduras, Nicarágua, Laos, Camboja, etc e existem os minúsculos como Luxemburgo, Andorra, Liechtenstein, Mônaco, Kwait, Emirados Árabes, etc...
Existem também territórios contínuos e descontínuos. O Brasil é um enorme território contínuo, já os EE.UU não são porque vários estados de sua Federação estão separados do todo, ou pelo mar, como Hawaí, ou por terra, como o Alaska (entrecortado pelo Canadá).
O terceiro Elemento, as Instituições, constituem organizações criadas pelo homem, (pelo Ser Humano – Pessoa Nacional), para facilitarem a vida em Sociedade. Então existem Instituições Sociais, Econômicas, Culturais, Pedagógicas, etc. E Políticas. Um exemplo de uma Instituição Política, é um partido político. É também o Municipalismo, é também uma Lei Básica, chamada Constituição, etc... Quando a Nação passa a possuir essas características políticas, ela não é mais, só uma Nação, mas também um Estado. Pode não ser um Estado soberano, mas é um Estado. O Brasil, depois de já ser Nação, e com a organização política determinada por Portugal, era um Estado, mas não um Estado Soberano. Quando a Família Real Portuguesa chega ao brasil, e o Príncipe Regente D. João (a Rainha era sua mãe D. Maria I, mas estava afastada do Trono, por doença mental) eleva, em 1815, o Brasil a Reino, embora ainda unido a Portugal e Algarve, ele passa a ser um Estado Semi-Soberano. Quando finalmente em 1822, o Príncipe Regente D. Pedro( seu pai D. João VI havia voltado para Portugal, deixando-o como Príncipe Regente do Brasil) corta seus laços com Portugal, e proclama a Independência, criando o Império do Brasil; esse finalmente, torna-se um Estado Soberano. Por isso a definição de Estado é Nação politicamente organizada. Tendo chegado à noção de Estado soberano, no assunto Cultura Sócio-Política, devemos completá-lo, com uma noção de Formas de Governo.
Sim, porque não pode existir Estado, sem Governo. E esse apresenta-se em d uas Formas Básicas: ou Monarquia ou República. Essas Formas Básicas se dividem em Sistemas. – Por exemplo, na Forma de Governo, Monarquia, apresentam-se Sistemas diversos como o Absolutista, o Constitucional, o Constitucional – Parlamentarista, e o Parlamentarista não Constitucional, como é o Reino Unido da Grã-Bretanha que é uma Monarquia Parlamentarista, mas não possue uma Constituição. – Na Forma de Governo República, também apresentam-se diversos Sistemas, como o Presidencialista, o Parlamentarista e o Ditatorial.
Forma Monárquica de Governo: a palavra vem do grego Monocracia “ governo de um só; mas é claro que as Monarquias modernas não mais apresentam esse aspecto monocrático. A característica principal das Monarquias modernas, se evidencia em uma profunda união entre o Rei e seu Povo e na função arbitral exercida pelo monarca, acima dos partidos e dos poderes executivo, legislativo e judiciário. – A Monarquia no Sistema Absolutista – centralizava mais o poder nas mãos dos Reis, mas mesmo, assim havia as tradições, a Igreja, as corporações populares e muitas outras entidades que tornavam o Rei, mais Rei e menos tirano (como eram, em geral, os orientais). Na Monarquia Constitucional, o Poder do Rei, como o Poder do Executivo, ou o Legislativo e o Judiciário vem positivados na Constituição. Nesse sistema, em geral, o Rei ocupa o Poder Executivo, embora possa delegá-lo a um Primeiro Ministro.
Na Monarquia Constitucional Parlamentarista, o Rei exerce a Chefia do Estado, enquanto que a Chefia do Governo será exercida por um Primeiro Ministro eleito pelo Parlamento.
Na Monarquia só Parlamentarista, (que o Reino Unido da Grã Bretanha é caso único, no mundo, pelo menos que se saiba) o Rei ou Rainha da Inglaterra é Chefe de Estado e só exerce suas funções em alguma crise nacional, dissolvendo o Parlamento e promovendo, logo, novas eleições. O Parlamento é que elege o Executivo (Primeiro Ministro e demais Ministros). Geralmente a Rainha nomeia como 1º Ministro, o líder do Partido Majoritário no Parlamento.
É evidente que esses Sistemas da Forma de Monarquia de governo, são os mais freqüentes, mas existem muitas outras, por esse mundo afora, que nem bem conhecemos. Só para termos uma idéia, as mais conhecidas monarquias européias, como a Inglaterra, a Espanha, a Bélgica, a Holanda, a Dinamarca, a Suécia, o Luxemburgo, Mônaco e Liechtenstein, são quase todas Parlamentaristas e Constitucionais, mas cada uma delas, apresenta particularidades tão diferentes, que é difícil classificá-las, num todo de Sistema Monárquico. Se sairmos da Europa, então, encontraremos dezenas de tipos diferentes de Monarquias, tanto na África, quanto na Ásia ou Oceania. Ex: alguns países africanos (da África negra) são monarquias, como o Lesoto, o Burundi, etc... Porém, as grandes repúblicas africanas, criadas artificialmente, das antigas colônias inglesas, francesas, portuguesas, espanholas, italianas, e alemães, são organismos políticos, como já dissemos, artificiais, mas que se dividem em tribos inúmeras, que obedecem aos seus chefes tradicionais (os Reis), e que, em geral, não obedecem ao governo central republicano. Conseqüências, as guerras infindáveis, que exigem constantes intervenções da ONU. Assim, só na África encontramos centenas de monarquias, pequenas porém orgânicas, e que são obrigadas a obedecer aos governos fantoches republicanos (geralmente militares) e cada uma com suas características e tradições próprias.
Na Ásia, ou melhor no Mundo Islâmico, (uma vez que começa no norte da África, atinge o Oriente Médio e chega à Ásia propriamente dita) temos geralmente monarquias absolutas como a Arábia Saudita, o Kweit, etc. Há algumas que simulam uma participação democrática, como o Marrocos e a Jordânia, etc. Se entramos na verdadeira Ásia, saindo do Paquistão islâmico, e adentrarmos na Índia, na China, no Laos, no Camboja, na Tailândia, no Japão, na Coréia, etc... Verificaremos países que são monarquias completas (como a Tailândia, o Laos, o Camboja, o Japão, etc) mas, nas outras, acontece o mesmo fenômeno citado na África, repúblicas divididas em inúmeras monarquias. A Índia é uma república unitária, mas seus presidentes e ministros para governarem, precisam estar em constantes conversações com os antigos Rajás e Marajás (que perderam oficialmente seus poderes, mas que continuam super-ricos e com poder moral sobre seus povos). O mesmo acontece na Malásia, na Indonésia, etc... A China é um caso a parte, pois o governo republicano comunista fez uma verdadeira lavagem cerebral no povo chinês, mas mesmo assim, nas ruelas mais imundas e minúsculas que são cruzadas pelas grandes avenidas modernas das grandes cidades da República, nessas ruelas encontram-se príncipes, nobres, sacerdotes e povo da antiga China que guardam, com o risco da própria vida, objetos, relíquias, documentos da China Imperial.Todas essas monarquias, reinantes ou não, possuem as diferentes características que já tínhamos abordado.
Forma Republicana de Governo
Como diz o nome, trata-se do governo da “coisa pública” – “res publica”. Mas é um nome mal dado, uma vez que na monarquia também se trata da “coisa pública”. Tanto que Dante Alighiere escreveu um tratado assim intitulado: “O Governo da República pelo Rei”. A palavra República pode ser examinada por dois aspectos: o antigo e o moderno – O antigo, representado magnificamente pela “República Romana”, representava, de fato, o governo da coisa pública; mas, essa coisa pública era dirigida preferencialmente pela aristocracia. Só, mais tarde, o povo passou a participar ligeiramente, pelo “tribuno da plebe”, e por leis que concediam alguns, direitos aos plebeus. Sabemos entretanto, pela História, que essa república Romana, quase democratizada, acabou ruindo, pelas mãos dos militares, ou da classe aristocrática ou da classe dos cavaleiros (miscigenação entre aristocratas e plebeus, causada, quase sempre pelas guerras), transformando-se no Império Romano, que não era propriamente uma monarquia, mas sim uma ditadura militar e das classes dominantes. Esse Império só se tornou uma monarquia, quando convertido ao cristianismo (século IV d. C) passou a ser bafejado pela doutrina cristã.
O aspecto moderno da República é aquele que nasce a partir da Revolução Francesa de 1789, e que pretendeu tornar-se de fato um governo, “pelo povo, para o povo, com o povo” etc como diz a Constituição norte Americana.
É comum confundir-se República com Democracia. A democracia é, de fato, um Governo exercido pelo povo. Mas a maior parte das monarquias modernas são democráticas, pois se o monarca exerce a Chefia do Estado, a Chefia do governo é escolhida pelo Povo. No entanto há repúblicas (infelizmente a maioria) que não são democráticas. Geralmente transformadas em ditaduras militares, como já houve e há em todos os países da América Latina, e prolifera enormemente na África e na Ásia.
A República deveria ser, pelo espírito que a criou, um espírito igualitário, onde todos tivessem meios de acesso ao governo, onde não houvesse corrupção, onde todos pudessem entender e conhecer a História de seu país e de ciência política.
Os sistemas, da Forma Republicana, que já abordamos, anteriormente, apresentam dois deles, características não democráticas: O Presidencialismo e o Totalitarismo. Esse último não precisa de melhores explicações para se ver seu caráter não democrático. O Presidencialismo, o mais adotado no Continente Americano, é, mais ou menos, uma ditadura com tempo limitado, pois apensar das Constituições Republicanas Presidencialistas declararem que seus três poderes se igualam e comungam harmônicamente das mesmas potencialidades, tal fica só na letra das Constituições, pois na realidade prática, o Executivo comanda e desmanda o Legislativo e o Judiciário, com raríssimas exceções. Já foi dito que Luís XIV, o mais absoluto dos reis de França, teria inveja dos poderes atribuídos ao Presidente dos Estados Unidos.
Sem sobra de dúvidas, o mais democrático dos Sistemas Republicanos, é o Parlamentarista. E por que? Porque é uma imitação do Parlamentarismo Monárquico da Inglaterra, pais onde nasceu a democracia, nos tempos modernos.
O Parlamentarismo tem Chefe de Estado e Chefe de Governo (o Chefe de Estado é uma imitação do Rei parlamentarista), chamado de Presidente; e o Chefe de Governo é o Primeiro Ministro, nomeado pelo Presidente, mas escolhido pelo Parlamento. Tanto o Presidente como o Primeiro Ministro acabam, sendo eleitos pelo Parlamento, e só este é que é eleito pelo Povo. Evidentemente, no Sistema Presidencialista, tanto o Poder Executivo (Presidente) quando o Legislativo (Congresso Nacional) são eleitos diretamente pelo Povo, mas já ficou visto que, pelo menos nas Repúblicas Presidencialistas da América Latina, da África e também da Ásia, essas eleições são corruptas e não tem nada de democráticas, daí várias dessas repúblicas, em sua História, terem se tornado Ditaduras.
Aqui temos, pois, um resumo dos Governos que apresentam-se na direção dos Estados, dentro desse assunto de Cultura Sóciopolítica.
FIM.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

AS PROVAS DE DEUS


As provas de Deus

• Trabalho não-publicado - 01/02/2007 •
Otto de Alencar de Sá-Pereira
I
Deus deu ao homem a potência da Vontade, ou Livre Arbítrio para que ele, usando de suas outras potências, a Racionalidade e a Sensibilidade, escolhesse livremente entre fazer o bem ou fazer o mal.
Os minerais, os vegetais e os animais irracionais, cumprem à risca, a Vontade de Deus, justamente porque não têm alma, com suas potencialidades racionais, sensitivas e volitivas. Portanto, seguem as Leis da Natureza, que são as Leis Matemáticas, Físicas, Químicas, Astronômicas, Biológicas, etc, que têm Deus como Autor; e assim, não pecam, pois jamais contrariam a Vontade do Senhor.
Ao homem, contudo, Deus destinou outros caminhos; pois, desde toda a Eternidade, Ele queria unir-Se ao homem, para que esse ser, material e espiritual, ao mesmo tempo, pudesse gozar de Sua glória, de Seu Saber, de Sua Luz e Beleza de Sua Felicidade, etc, eternamente.
Aos Anjos, puros espíritos, portanto superiores ao homem, Deus submeteu-os uma única prova. E essa Única Prova permitiu que os Anjos que escolheram bem, preferindo o Bem, como na frase de S. Miguel Arcanjo: “Quis ut Deus?” Permanecessem na Glória, na companhia do Altíssimo.
E os outros, que escolheram mal, por orgulho, pretenderam ser como outros deuses, estes foram, para sempre, precipitados no Inferno, ou Reino das Trevas e da Iniqüidade, e são Lúcifer ou Satanás e seus sequazes, os demônios. Isto aconteceu com os Anjos, porque estes, de natureza muito superior aos homens, tinham, tem e sempre terão o conhecimento instantâneo de todas as coisas. Alguns teólogos chegam a explicar, a revolta destes anjos-demônios, a um fator muito específico. Conhecendo o futuro, eles puderam constatar, que seriam obrigados a adorar e servir, a um Homem-Deus, que, enquanto Homem, seria de natureza inferior à deles: Jesus Cristo, Nosso Senhor. O orgulho de muitos não aceitou esta situação. E ainda pior, deveriam servir a uma Mulher, Mãe de Jesus, que seria a Rainha dos Anjos; um ser somente de natureza humana, e que nem era homem, mas mulher: Maria Santíssima! Seu incomensurável orgulho, não poderia entender, a maior de todas as Qualidades, a Humildade, fruto das Virtudes Teologias: Fé, Esperança e principalmente Caridade, e portanto, não viram que Maria, possuindo essa Qualidade e essas Virtudes, em grau sublime, era Ela a obra prima de Deus!
O homem, entretanto, não era Anjo. O conhecimento do homem dependia da Inteligência, da Racionalidade, da Sensibilidade e da Vontade, dependia do equilíbrio ou desequilíbrio destas Potencialidades, era portanto, mais lento. E o homem vivia no tempo e não na Eternidade. Destinou-se à Eternidade, mas vivia no tempo; logo, não poderia ser submetido a uma Única Prova.
E então, nos narra a Sagrada Escritura e a História, tiveram início as Provas: A primeira, aconteceu ainda no Paraíso Terrestre: Deus deu ao homem o poder sobre toda a Natureza. Mas pôs o homem à Prova. E Prova de Fidelidade e de Amor: “Não comerás do fruto da árvore do conhecimento do Bem e do Mal”. E o homem, tentado pelo demônio, em forma de serpente, e também por sua companheira, Eva, o comeu, faltando com a Fidelidade e Amor a Deus, que tudo lhe tinha dado, a começar pela própria existência.
Esta foi a Primeira Prova, e que acarretou no pecado original, com todas suas conseqüências maléficas para a Humanidade.
Se nessa Primeira Prova, o homem foi infiel, na Segunda, ao contrário, foi de uma Fé espantosa. Noé constrói uma arca, em região montanhosa, longe de qualquer mar, lago, rio ou lagoa, só porque Deus lhe mandou que o fizesse. Essa Prova Deus gostou; porque a Fé consiste, exatamente, em obedecer à Palavra de Deus, por mais absurda ou paradoxal que ela pareça ser. E Noé, ainda teve que sofrer, o deboche e a chacota de seus vizinhos e contemporâneos, e até mesmo a dúvida de sua sanidade, por parte da mulher, filhos e noras.
E veio o dilúvio e a Fé de Noé salvou a Humanidade, da completa extinção.
Chegamos agora, cronologicamente (embora, talvez pulando Provas menores da História do homem), ao episódio de Fé e Amor, mais lindo do Antigo Testamento. É a figura magnífica do Pai do Povo Hebreu: Abraão!!! Deus lhe tinha dito: “Terás uma descendência tão numerosa quanto as estrelas do céu”; mas, sua mulher, Sara, era estéril e já atingira uma idade, na qual as mulheres não podem mais procriar. E Sara riu-se quando o marido lhe relatou a Palavra de Deus. E Sara não engravidava, pondo à Prova a Fé de Abraão, mas esse nunca deixou-se levar pela dúvida. Sara, entretanto, interpretou, à moda dela, a Vontade do Senhor. Convenceu o marido a dormir com sua escrava Agar, pois daí, nascendo um filho, esse seria de Abraão, embora bastardo, e se resolveria a questão, pois naquela época, os filhos das escravas com o Senhor, eram considerados filhos da Senhora. E nasceu Ismael, a raiz do povo árabe. Deus perdoou Abraão, e também abençoou Ismael, prometendo que este também seria o tronco de outro numerosíssimo povo. Mas, não seria ele o início da progênie prometida, e sim o filho que Sara viesse a ter. Sara não creu que Deus assim se tivesse manifestado, mas Abraão manteve a sua Fé, na Prova de Deus. Até que, milagrosamente, Sara, já na sua velhice, deu à luz Isaac. Parecia que a Prova de Deus, tinha sido finalmente realizada, graças à Fé inquebrantável de Abraão. Porém, Deus queria mais, pois conhecia bem seu filho Abraão. E ordenou a Abraão: Pega os instrumentos de sacrifício, e a lenha e leva teu filho à terra de Moriá, e sobre a montanha sacrifica-o a Mim, teu único filho. Abraão não entendeu mais nada, mas obedeceu. Isaac era o filho do milagre; aquele que constituía a esperança para que se realizasse a promessa de Deus a ele: “ Terás uma descendência tão numerosa quanto as estrelas do céu!” E essa esperança parecia ir agora águas abaixo, já que Deus ordenava o sacrifício de Isaac. A Prova de Deus era quase insustentável, mas Abraão obedeceu. Quando entretanto, o sacrifico estava prestes a se realizar, a mão do pai, já erguida empunhando o punhal sacrifical, sobre o filho amarrado sobre o altar, onde estava a lenha, para a cremação do corpo, após a punhalada, o Anjo do Senhor fez ouvir Sua voz, ordenando a interrupção do sacrifício, sendo o menino substituído por um cabritinho, que apareceu, tendo seus chifres presos nos arbustos. E a vos tonitruante fez-se ouvir. “Agora Eu sei que temes a Deus pois, não Me recusaste teu único filho!” Esta foi a maior Prova que Deus impôs ao homem, até chegarmos à época da Encarnação do Verbo de Deus. Mas, antes do Mistério da Encarnação, ainda outras Provas, Deus imporia ao homem porém veremos em próximos artigos.
II
Isaac, filho de Abraão, teve dois filhos gêmeos: Esaú e Jacob; E Deus continuou com Suas Provas. Esaú tinha nascido primeiro, portanto era considerado primogênito. Jacob era o segundogênito. Isaac preferiu Esaú, mas sua mulher e prima Rebeca tinha maior amor por Jacob. Rebeca, sem saber, estava certa por preferir a Jacob. (A Ciência, hoje em dia, está quase afirmando, que, em caso de gêmeos, o que nasce em segundo lugar é que é o primogênito, pois teria sido gerado primeiramente). Jacob era pastor e homem dado às coisas de Deus e do espírito era de pele lisa e quase imberbe. Esaú era caçador, tinha o corpo todo coberto de pelos e era dado mais às coisas dos homens e da matéria. Essa a razão pela qual Rebeca preferia seu filho Jacob a Esaú, embora amasse a ambos. Isaac também amava a ambos os filhos, mas tinha predileção por Esaú, por acreditá-lo primogênito. Isaac estava preso à Lei e pela Lei da época Esaú é que deveria ser o primordial herdeiro, que deveria receber a bênção principal do pai, antes desse morrer, e essa bênção, era como o “Mana” de tantos povos, uma espécie de Transmissão de Poder Espiritual e Temporal, algo de taumaturgia. Mas, como já disse, Rebeca tinha razão. O preferido de Deus era Jacob. Deus põe Isaac à Prova antes de morrer. As circunstâncias todos conhecem, mas não custa rememorar. Os dois irmãos estavam longe de casa; Esaú tinha ido caçar e Jacob ficara com suas ovelhas, e, para alimentar-se, cozinhava umas lentilhas. Chega Esaú, sem ter sido bem sucedido na sua caça, e pede ao irmão um prato de lentilhas. Jacob consente, mas sob uma condição: que Esáu lhe transferisse seus direitos de primogenitura. Esaú, morto de fome, aceita o acordo, certamente julgando que aquele ato jurídico de boca, não teria valor. Jacob comunica à sua mãe, o que se tinha passado, e ela vê naquilo, a mão de Deus. Mas, para todos os efeitos, inclusive para Isaac, Esaú continuava a ser o herdeiro. Passam-se os anos e Isaac, muito doente e cego, está para morrer. Chama Esaú e lhe diz que não quer morrer, sem antes provar do guisado de uma caça de Esaú. E este parte para a caçada. Ao comer o guisado, Isaac sabia que iria morrer. Rebeca ouvira a conversa do pai com o filho. Chama então Jacob e diz-lhe que corte a lã de uma ovelha e cubra seus braços e pescoço para se parecer com Esaú, enquanto ela preparava o guisado de um cabrito, de modo que Isaac gostava. Faz Jacob vestir as melhores roupas de Esaú, para ficar com o cheiro de Esaú e o manda apresentar-se ao pai, levando o guisado. Isaac desconfia da voz de Jacob, diferente da de Esaú, mas quando Jacob, aos pés da cama lhe apresenta o guisado, do modo que Esaú costumava cozinhar, e tocando nos braços do filho, o sente coberto de pelos, como os de Esaú, Isaac acredita ser mesmo Esaú e depois de comer concede-lhe a Bênção taumatúrgica, que era uma só. Quando Esaú volta e constata que tinha sido enganado, reclama com o pai. É aí que Deus põe Isaac à Prova. Pois este não volta atrás. A bênção taumatúrgica já tinha sido concedida, e não poderia ser substituída. E bem concedida, apesar do engodo. Pois Jacob era o verdadeiro herdeiro e tinha se casado com mulher de seu sangue, o que era indispensável, enquanto Esaú unira-se a estrangeira. Isaac sofrera a Prova de Deus, mas aceitou, não voltando atrás.
Jacob teve 12 filhos com suas mulheres e primas, Lia e Rachel, e também com algumas escravas de suas mulheres legais. Estes 12 filhos são a origem das 12 tribos de Israel. Todo israelita ou judeu, descende de um destes filhos de Jacob, por isso, Deus trocou o nome de Jacob para Israel.

Outras provas de Deus
III
O grande Camões tem um lindo poema bíblico, que assim se inicia:
Sete anos de pastor Jacob servia A Labão, pai de Rachel, serrana bela,Mas não servia a ele e sim a ela,Pois só a dela sua mão pretendia
De fato, ainda em tempos de Isaac, Jacob foi trabalhar nas terras de seu tio Labão, a mando do pai, para conseguir casar-se dentro de sua linhagem, como era o hábito. Labão tinha duas filhas: Lia e Rachel. Jacob fez um trato com o tio. Trabalharia para ele durante sete anos e depois receberia, como prêmio, a mão de Rachel, a quem amava. Passados os setes anos, o tio e sogro Labão, nãio obedeceu ao acordo, e lhe deu Lia, como esposa. Para conseguir Rachel, Jacob deveria trabalhar mais sete anos. (Deus permitia a poligamia, neste momento da História de Seu povo, talvez, segundo alguns teólogos, para formar o povo de Deus, fazendo-o crescer, pela poligamia). Assim foi, e Jacob, depois de sete anos obteve sua amada Rachel. A maior parte dos filhos, nascidos na juventude de Jacob, eram de Lia ou das concubinas, só dois foram filhos de seu grande amor, Rachel: José e Benjamin.
Como os irmãos quase sempre eram filhos de mães diferentes, não se tornavam muito amigos. Eram divididos em grupos; e o grupo mais fraco era o composto pelos filhos de Rachel: José e Benjamin, por serem os mais moços. Os outros invejavam principalmente a José, devido sua inteligência e capacidade de decifrar sonhos, um certo dom sobrenatural. Passando por sua terra, uma caravana comercial, em direção ao Egito, os filhos mais velhos de Jacob, resolveram livrarem-se de José e o venderam, como escravo aos mercadores. Para enganarem o Pai de que José havia morrido, mataram um animal, e com seu sangue embeberam roupas de José. Jacob acreditou e lamentou imensamente a morte do filho, que era o preferido, com muito pranto e longo luto. José, em chegando ao Egito, foi vendido como escravo, como auxiliar de cozinha no Palácio do Vizir do Faraó. Lá ficou famoso pois interpretava os sonhos de funcionários e até do próprio Vizir (uma espécie de grão-chanceler do Faraó). O Faraó estava atormentado por sonhos estranhos, os célebres, das sete vacas magras e sete vacas gordas, das sete espigas fracas e sete espigas fortes etc.
O Vizir sabendo do estupor de seu senhor, o Faraó, aconselha-o a ouvir o escravo hebreu, chamado José. E José, como todos sabem, interpretou os sonhos do Faraó, como setes anos de fartura, que seriam seguidos por setes de fome, aconselhando o Faraó a estocar grãos, nos setes anos de fartura, para enfrentar os setes anos de fome. Aconteceu exatamente o que o “pseudovisionário” José previra, e o Faraó ficou tão maravilhado, não só com a interpretação dos sonhos, como com todas as atitudes e conselhos de José, que resolveu fazê-lo seu Vizir (isto só foi possível, porque as Dinastias dos Faraós, desta época, não eram Dinastias autenticamente egípcias, mas dos invasores hicsos, que, por sinal, eram também semitas; os Faraós autenticamente egípcios eram profundamente xenófobos). Nesta época em que José é Vizir do Faraó, acontece à visita ao Egito de seus irmãos, menos, Benjamin, à procura de alimentos, pois a terra em que viviam (Corredor Sírio-Palestiano), passava por terrível seca. José reconhece os irmãos, mas estes não o reconheceram, pois José se desenvolvera fisicamente e se ataviava à moda egípcia e própria da sua hierarquia, com tinturas, brocados, mantos e jóias. Foi então aí, que Deus pôs à prova as virtudes de José: amor e perdão! Ele não se deu a conhecer logo, mas, com perguntas, ficou sabendo que seu velho pai Jacob, ainda vivia, e que tinha ficado, em suas terras, com o filho caçula Benjamin. Exigiu, para ajudá-los, que voltassem à terra natal e buscassem, Jacob e Benjamin. Enfim, como todos conhecem, com idas e vindas, e dinheiro que aparecia nas bolsas das mulas dos irmãos, com acusações de serem ladrões, enfim, depois de todos estes castigos, José deu-se a conhecer, já na presença do Pai e do irmão Benjamin. José, com o poder que detinha no Egito, poderia ter-se vingado dos irmãos maldosos, poderia tê-los escravizado e até matá-los. Mas não, foi fiel ao espírito do Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob, e perdoou-os e fê-los virem morar no Egito.
Foi no Egito, que as tribos dos descendentes dos filhos de Jacob desenvolveram-se e tornaram-se verdadeiramente uma Nação: a Nação de Israel a única monoteísta do mundo da época, do povo de Deus. Foi no Egito, que quando as Dinastias verdadeiramente egípcias recuperaram o poder, expulsando os hicsos, a Nação de Israel foi escravizada, porque voltou o xenofobismo. Foi no Egito, finalmente, que nasceu Moisés, que libertou seu povo do jugo egípcio, mas isso só aconteceu graças a José ter sido fiel a mais esta Prova de Deus.
IV
Os Hebreus ou Judeus foram morar no Egito, na época das Dinastias Hicsas, de Faraós que não eram egípcios. Dinastias XIII, XIV, XV e XVI. Dinastias de origem semítica, como os hebreus, daí a tolerância não xenofóbica. José e seus irmãos, filhos de Jacob, edificaram a nação hebréia ou israelita, em solo egípcio. Seus descendentes, apesar do meio ambiente egípcio, e que era forte, não perderam a sua língua materna, seus costumes, tradições e principalmente sua religião, aquela do Deus Verdadeiro, Javé, “Aquele que é”. Não foi, nem será: É, ontem hoje, amanhã e sempre, desde toda a Eternidade. Fenômeno sócio-político-religioso que só poderia mesmo acontecer com o Povo de Deus. Entretanto, por volta de 1400 a.C., a última Dinastia Hicsa é vencida pela XVII Dinastia autenticamente egípcia, descendente das antigas Dinastias do Antigo e Médio Império. Essa XVII Dinastia vai reconstruir o verdadeiro Egito e naturalmente restabelecer a xenofobia e portanto escravizando “todos os não egípcios, e entre eles o povo de Israel (Hebreus ou Judeus)”. Por duzentos anos o Povo de Deus sofrerá a escravidão egípcia, até o surgimento de Moisés. A Prova que Deus prepara agora, para salvar Seu povo, não será só de Moisés, mas também do povo todo, como um “totum”. Moisés tinha sido criado por uma Princesa egípcia, filha do Faraó, e se julgava egípcio. Circunstâncias ocorreram, as mais estranhas, que levaram Moisés a saber, de sua verdadeira raça, a hebréia; inclusive assassina um soldado egípcio que maltratava escravos de seu povo. Por isso, é exilado, e vai morar na Península do Sinai, onde se casa e constitui família. É lá que ele recebe a primeira Revelação de Deus, que o ordena que volte ao Egito e liberte Seu povo. Moisés não duvida da Prova de Deus que se lhe está sendo imposta, mas argumenta com o Senhor, que lhe parece impossível convencer e vencer o Faraó de libertar o povo hebreu, e ainda põe esse obstáculo: eu não falo bem, sou gago. Deus lhe responde, que seu irmão Aarão falará por ele e que Ele, o Deus de Israel, aquele “Eu Sou” estará em sua companhia. Se lhe perguntarem quem lhe deu essa incumbência, ele deveria responder: “Eu Sou”, aqui me mandou vir para libertar Seu Povo.
Moisés separou-se de sua família e voltou ao Egito. Entrou em contato com sua gente e advertiu do que iria acontecer. Aqui temos a Prova de Deus em relação ao povo, pois a grande maioria creu na revelação de Deus a Moisés, principalmente quando ele e seu irmão Aarão foram falar ao Faraó e o ameaçar dos castigos que Deus infligiria ao Egito e quando estas pestes castigaram duramente o povo egípcio, e não aos hebreus. Foram sete pestes que, como sabemos, culminaram, com a terrível sétima peste, a qual eliminou da face da Terra, pela morte, a todos os primogênitos, desde o filho mais velho do Faraó, e primogênitos de todo o povo, e também, os primogênitos dos animais dos egípcios, excetuando-se o povo hebreu e seus animais. O anjo da morte respeitava as casas marcadas com o sangue de um animal sacrificado ao Deus de Israel.
Uma outra grande Prova que Deus impôs a Moisés e ao povo Hebreu, foi a travessia do Mar Vermelho, na saída do Egito. Quarenta anos, esse povo perambulou pelo deserto do Sinai guiados por Moisés, em direção à Terra Prometida, a Terra de Canaã. Durante esses quarenta anos, muitas outras Provas de Deus, foram impostas a Moisés e ao povo. É justo que se diga que o Taumaturgo Moisés, foi justo e fiel em todas as Provas, o que nem sempre aconteceu com o povo, que tinha o coração duro, como diz a Bíblia. Quando o povo reclamou de fome e sede, duvidando de Deus, apesar de terem sido testemunhas e protagonistas de todas as maravilhas, as pragas que dobraram o poder do Faraó e a fantástica travessia do Mar Vermelho, Moisés não duvidou e rogando “Àquele que É”, Seu auxílio, veio o maná e do deserto brotou água fresca.
No Monte Sinai, Moisés recebe de Deus os Dez Mandamentos (o mais perfeito Código de Leis que o mundo jamais conheceu, pois teve como autor o próprio Senhor). E quando desce a Montanha, com a fisionomia transfigurada pois vira Deus “face a face”, e no pé da montanha encontra seu povo, a adorar ídolos egípcios e a se banquetear, inclusive com a adesão de seu irmão Aarão, completamente esquecidos de sua identidade de “o Povo de Deus”, “Aquele que é, do Eu Sou”.
Moisés apesar de não ter tido culpa, do que aconteceu, enfurecido quebra as Tábuas Sagradas, mas como o responsável pelo povo de Deus, Esse castigou-o com uma última Prova, da qual ele não pode livrar-se. Foi de longe que ele avistou a Terra Prometida, pois Deus levou-o ao Seio de Abraão. (Antes, entretanto, lhe concedera novamente as pedras com os Dez Mandamentos).
v
Deus castigou Moisés, privando-o de chegar à Terra Prometida, devido às defecções de seu povo, do qual, ele era o responsável. Moisés morreu, vendo, de longe, a conquista de sua Terra, pelo seu general e sucessor, Josué. A Terra não estava desabitada, e sim povoada por vários povos, como os próprios Cananeus, os moabitas, os filisteus, os fenícios e muitos outros. Nas primeiras batalhas, Moisés, ainda vivo, do cimo de uma montanha, via e abençoava a Josué e seus guerreiros. Enquanto ele mantinha os braços elevados, abençoando-os, os israelitas, comandados por Josué, obtinham vitória; quando ele baixava os braços, por cansaço, os seus exércitos eram derrotados. Isso ficou tão evidente, que, dois auxiliares de Josué foram incumbidos de segurarem os braços de Moisés, que caiam pelo cansaço. Essa foi a última Prova de Deus a Moisés, antes de conduzi-lo ao “Seio de Abraão” (É preciso que aqui seja assinalado algo muito importante: Por que “Seio de Abraão”? Esse é o nome que é dado, pela Sagrada Escritura, ao lugar para onde se dirigiam os justos, após a morte, uma espécie de Limbo. Por que não, o Céu? Porque, por causa do Pecado Original, todos os justos que morriam, apesar de serem justos, não tinham sido redimidos ainda, pelo sangue do Cordeiro de Deus, (Agnus Dei) Jesus, o Filho de Deus, o Verbo de Deus, que se fazendo Homem, pode apagar os pecados dos homens, pela sua morte de Cruz, homens do passado, do presente em que Ele veio ao mundo, e do futuro. Por isso, no “Credo” é dito: “ foi crucificado, morto e sepultado, desceu à Mansão dos Mortos, ressuscitou ao Terceiro Dia, etc...” Essa “Mansão dos Mortos” é o “Seio de Abraão”, para onde se dirigiu o Filho de Deus, para liberá-los e conduzi-los ao Céu, após Sua Morte de Cruz. Alguns teólogos chegam a afirmar que até S. José, que morrera bem antes de seu Filho nutrício, estava também lá, esperando a Redenção; portanto Moisés também lá se encontrava, e não no Céu).
VI
Com a morte de Moisés, Josué foi vencendo os povos que habitavam a Terra Prometida, e tornou-se, como sucessor de Moisés, o chefe, o Dirigente do Povo de Deus. Mas Josué também morreu e então, o povo dividiu-se. As doze Tribos dos doze filhos de Jacob foram ocupando as terras já conquistadas, É a época, chamada dos Juizes, onde salientaram-se Sansão, Débora, Gedeão, etc... que também foram submetidos a Provas de Deus, mas de menor vulto.
Por volta do XI século a.C., um dos Juizes, que também era Profeta , chamado Samuel, foi consultado pelos outros Juizes e pelo povo em geral, se não seria melhor para eles, (que estavam divididos em tribos, e que portanto eram, às vezes, derrotados separadamente pelos inimigos), se unirem todos, tendo um Rei para comandá-los, como tinham os outros povos. Samuel irritou-se profundamente com essa sugestão, pois explicou-os que o Rei deles era o próprio Deus de Israel, “Aquele que É”, o Único e Verdadeiro Deus. Responderam que sabiam disso, mas que precisavam de um Rei de carne e osso, que os unisse e comandasse seus exércitos, e propunham a Coroa ao próprio Samuel. Esse, depois de acusá-los de infiéis, de homens de coração duro, de ingratos a Javé, acabou cedendo. Mas, não queria a Coroa. Ele era um Profeta um Homem de Deus, e não podia cuidar das coisas dos homens. Que o Rei de Israel seria escolhido pelo próprio Senhor Deus. E para isso, para saber quem deveria sagrar Rei de Israel, Samuel, rezou muito, fez muita penitência e jejum. Essa foi a grande Prova de Deus a Samuel. Finalmente, ele recebeu de Deus a indicação. O Rei deveria ser Saul. Samuel sagrou, ungiu com azeite e coroou Saul (cerimônia essa que serviu de protótipo a todas as coroações de Reis e Imperadores judeus e cristãos, desde aquela época até hoje). Saul, de fato, solucionou o grande problema do povo hebreu. Com as tribos reunidas em um só Estado, foi mais fácil vencer os inimigos. Pode-se dizer que Samuel e Saul foram os fundadores do Reino de Israel (não da Nação de Israel, que já tinha sido constituída, desde a escravidão no Egito, mas do Estado de Israel, Reino politicamente organizado, sim).
O poder entretanto subiu à cabeça de Saul e ele passou a não mais ouvir os conselhos de Samuel, sem entretanto deixar de respeitá-lo, como o Homem de Deus. Uma prova disso, consiste na seguinte passagem. Saul estava preparado para combater os filisteus, mas não partia para o combate, sem antes, receber a Benção do Profeta e assistir seu ritual sacrificando ao Deus de Israel (o que hoje seria a Missa). Mas Samuel não aparece (havia morrido e Saul não sabia). Os generais impetuosos, querem assim, mesmo, iniciar o combate, e argumentam com Saul, que talvez Samuel fosse um falso Profeta. Ouvem essa resposta do Rei: “Se Samuel é um falso Profeta, eu sou um falso Rei”.
A partir desse momento tem início à decadência do Reinado de Saul e a ascensão de David. Samuel, antes de morrer, tinha recebido de Deus a missão de ungir Rei de Israel, a um filho de Jessé. Samuel visita Jessé, que tinha muitos filhos homens, e lá, Deus lhe indica para ungir o jovem pastor David o mais jovem dos filhos de Jessé. A partir daquele momento David era o “Rei de Direito de Israel embora Saul continuasse a ser o” Rei de Fato “. Saul entra em depressão com a morte de Samuel, e um de seus filhos descobre o pequeno David, que além de pastor, era poeta e músico, para com as palavras e a lira (os Salmos) socorresse o pai doente. David dá nova vida a Saul e com o tempo, e principalmente com o episódio de sua vitória sobre Golias, o herói e gigante filisteu, David cresce em prestígio, no povo de Israel. Quando ele chegava das batalhas o povo bradava: “Saul venceu mil inimigos, David 10 vezes mil”. David tornou-se o Condestável de Israel (embora soubesse que era Rei, mas não ousava combater Saul, pois esse era também ungido do Senhor) e casou-se mesmo com a filha de Saul, sua primeira esposa. Saul, enciumado pelo prestigio de David, tenta matá-lo. David foge de seus perseguidores e essa é grande Prova de Deus a David. Ele sabe que é rei, ungido pelo Profeta, mas Saul também fora ungido e portanto David não Vai contra seu sogro. Essa Prova de Deus, podemos chamá-la de “Fidelidade Àquilo que era sagrado”. A unção era como se fosse um Sacramento. Logo sagrada e David a respeita, foge da perseguição de Saul, e deixa (já que ele também fora ungido) nas mãos de Deus, o seu futuro. Em batalha contra filisteus Saul e sua progênie masculina é toda eliminada pelo inimigo. David entra triunfante em Jerusalém, como Rei de Israel. Tinha sido fiel a Saul, até o fim, nunca levantou a espada contra seu Rei, o ungido do Senhor, embora ele também o fosse, e assim mereceu ser o Grande Rei David, cuja descendência reinou séculos em Israel e depois em Judá. Mas a sua maior glória ele não a conheceu em vida. Foi dele, de sua descendência, que Deus escolheria uma santíssima Virgem para ser a Mãe do Filho de Deus, e a colocaria sob a guarda de um também Santo Homem “José ben David” (São José, também descendente de David), para a Redenção da Humanidade.
VII
O Rei, Profeta e salmista, David, teve muitos filhos, de várias mulheres, mas, quem herdou o seu trono foi o filho de seu maior pecado, o futuro Rei, Salomão. Por que o seu maior pecado? David já tinha sido casado várias vezes (na época a Lei de Deus permitia, como já explicamos, em capítulo anterior, principalmente no caso de um Rei). Entretanto, apaixonou-se loucamente por Bertsabeth, pois a tinha visto nua, a banhar-se, embora, de longe, mulher de grande beleza, porém casada. E casada com Urias, general de seus exércitos, que nem judeu era, e sim hitita, mas que daria a vida por seu Rei, pois amava David, como seu Rei. David, perfidamente, manda o Comando em Chefe designar Urias para o Comando do “Front”, na frente de seus exércitos, em guerra.
O que David pretendia, de fato, acontece, Urias morre em combate. E Bertsabeth está viúva e portanto livre para casar-se com David. Deste casamento nasceu Salomão, o que, por várias circunstâncias herdará o trono (são muitas vezes, intangíveis os caminhos do Senhor) e se tornará, pela morte do Pai, o grande Rei Salomão. Esse Rei, que teve grandes momentos em seu longo reinado, momentos de glórias e de riquezas, momentos de vitórias militares e momentos de grandes pecados, até mesmo a idolatria, esse grande Rei, passou por uma terrível Prova de Deus. Prova essa, da qual ele se saiu muito bem, Prova de Justiça, e que, por causa disso, até hoje, alude-se “à justiça salomônica”, quando um Processo de Direito consegue fazer Justiça, entre partes litigantes . Duas mulheres compareceram à frente do Rei, com uma criança ainda pequena, e as duas mulheres alegavam ser a mãe verdadeira da criança. Salomão com a calma e sobriedade de um Rei e Juiz, ordena a seus ajudantes: “cortem a criança ao meio e dêem metade para cada uma”, diante de tal ordem, uma das mulheres grita, em desespero, e clama: “podem dar a criança a ela, mas não a matem! Salomão, imediatamente diante desse gesto, reconhece a verdadeira mãe, e determina que a ela, a que impedira a morte da criança, lhe fosse entregue a criança. Deus pôs à Prova a Inteligência e a Justiça do Rei!
Deus também pôs Salomão à Prova na fidelidade a Ele. Houve momentos, principalmente os momentos de glórias e riquezas que, como já dissemos, Salomão, tentado pelo dinheiro pela vanglória, adorou outros deuses, ídolos de outros povos, ou seja, adorou o demônio. Mas veio depois o arrependimento e a penitência e Salomão voltou a ser fiel ao Deus de Israel, “Aquele que É”.
FIM.