terça-feira, 19 de agosto de 2008

Alta e Baixa Idade Média, especialmente na França: Merovíngios, Carolíngios e Capetíngios. A Taumaturgia

Otto de Alencar Sá Pereira

A História divide a Idade Média, em dois períodos: a Alta Idade Média, do século V (queda do Império Romano do Ocidente) ao X; e a Baixa do século X ao século XV (queda do Império Romano do Oriente ou Bizantino e início da Idade Moderna, com o Renascimento).
O interessante, é que, na França, a Alta Idade Média corresponde à Dinastia dos Merovíngios. Na transição da Alta para a Baixa, encontramos os Carolíngios. E já na Baixa, temos a 3ª Dinastia dos Reis francos, ou franceses, ou de França, os Capetíngios. O mais interessante, ainda, é que os Carolíngios, descendiam, por lado feminino, dos Merovíngios, e os Capetíngios, também por lado feminino, dos Carolíngios.
O que nos leva a verificar que o mesmo sangue de Reis, reinou na França por 14 séculos, por cerca de 1400 anos. Considerando-se que a França, como Nação e Estado, tem menos de 1600 anos, o sangue dos Reis foi que verdadeiramente edificou a Pátria dos franceses. Como diz Jacques Bainville, na Introdução de sua Histoire de France: Tivemos Reis bons e maus, fortes e fracos, competentes e incompetentes, guerreiros e pacíficos. Sua realização: La France.
A Dinastia mais antiga, a dos Merovíngios, descendente de diversas tribos de reis bárbaros germânicos, estabeleceu-se nas terras da Gália (nome que Roma dava a essa sua província, depois França) com Clovis (século V) Rei dos Francos Sálicos, neto de Meroveu, (daí Merovíngios), que antes reinavam só no nordeste da França, mas, que depois, por seus descendentes, passaram a formar diversos reinos, em território gaulês, como a Austrásia, a Neustria, a Borgonha, a Aquitânia, o Orleans o Paris etc. Esses diversos reinos eram todos da família Merovíngia. Se dividiam, porque não havia ainda a Lei da Sucessão por primogenitura. Logo, quando um Rei morria, todos seus filhos herdavam, portanto o reino era dividido em vários pequenos reinos. Como tinham ainda hábitos bem bárbaros, ocorriam constantemente homicídios entre parentes, fratricídios, parricídios, e os outros muitos assassinatos, entre tios, primos e sobrinhos. Tudo isso para unificar o que estava esfacelado. De fato, entre os séculos V e VIII, a França, ora estava unificada em um só reino, ou dois, ora estava cortada em fatias diversas, em pequenos reinos. Fatos bem típicos da barbárie da alta Idade Média, onde, a cultura romana antiga, fora quase toda esquecida ou destruída (não totalmente, porque os mosteiros e conventos católicos preservaram muita coisa) e a Igreja não tinha ainda conseguido pregar a Palavra de Deus, pelo Evangelho, por toda à parte, e também o surgimento de heresias que dividiam os já cristãos e muitas vezes os Reis, que se combatiam também por motivos religiosos.
Finalmente, no reinado unificado do Merovíngio Childerico III, um seu ministro, aliás, mais do que isso, uma espécie de Primeiro Ministro, cargo de Prefeito de Palácio, Pepin o Breve (porque era baixo) ( em francês Pepin, le Bref) aproveitando uma circunstância política, que lhe era favorável, o Papa estava sendo ameaçado, da invasão de suas propriedades romanas, pelos Lombardos que já se encontravam no norte da Itália, que eram cristãos, porém da heresia ariana, propôs ao Santo Padre Zacharias uma questão: “Quem deve ser o Rei legítimo de França, aquele que simplesmente porta a coroa sobre sua cabeça, ou aquele que verdadeiramente governa?”
O Papa, para defender-se dos Lombardos, só podia contar com dois soberanos: ou o Imperador Bizantino de Constantinopla, ou o Rei dos francos! E isso porque os demais reinos da Europa, ou estavam contaminados da heresia ariana, como os próprios Lombardos ou ainda eram pagãos. O Imperador Bizantino seria o natural defensor da Igreja, mas, na época, a heresia iconoclasta, tinha tomado conta do Império Romano do Oriente. Heresia muito menos grave que a ariana, mas a Igreja a tinha condenado. Logo, esse atrito entre Roma e Constantinopla, impedia que a segunda ajudasse a primeira. Restava ao Papa pedir socorro ao Rei dos francos. Sabedor de que Childerico III não tinha autoridade, e fingindo desconhecer a carta de Pepin, para não ter que pronunciar uma sentença, escreveu, ao próprio Prefeito de Palácio, Pepin le Bref, diretamente, para não perder tempo, pedindo socorro contra a invasão lombarda. Pepin, interpretando esse pedido de socorro, só dirigido a ele e não ao Rei, como uma resposta sub-reptícia do Papa, à sua carta, depôs do trono seu primo Childerico III, colocou-o preso em um Mosteiro, coroou-se Rei dos Francos em Reims e partiu, com seus exércitos, para a Itália. Lá venceu os lombardos, e chegando triunfante a Roma, foi coroado, pela segunda vez, Rei dos Francos, pelo Sumo Pontífice, que já não era o Papa Zacharias, que havia morrido, e sim Estevão III. A esse, em gratidão, Pepin doou muitas terras, antes bizantinas, o Exarcado de Ravena, a Pentápole e outras terras em torno de Roma. Tornou o Papa não só o Soberano Espiritual da Cristandade, mas também soberano temporal de um Reino ao Centro da Itália, que chamou-se Patrimônio de S. Pedro, ou Estados Pontifícios, que duraram dez séculos. Isso tudo ocorreu no século VIII da nossa Era, dando início à Dinastia Carolíngia, pois Pepin era filho de Carlos Martel (Carolus, em latim, daí Carolíngios. Martel era uma espécie de arma em formato de martelo, martelus, em latim, marteau em francês) aquele que na batalha de Poitiers (também como Prefeito de Palácio) estancou, no Ocidente, a invasão islâmica, enquanto no Oriente, o Imperador Bizantino Leão III impedia a Tomada de Constantinopla pelos Islamitas. Estas duas vitórias cristãs, do século VIII, salvaram a Europa de se tornar muçulmana, pois o Império Islâmico, nessa época, atingira toda sua expansão e plenitude, indo do Oceano Índico ao Atlântico. Pepin, o primeiro Rei Carolíngio dos francos, foi o pai de Carlos Magno. Carlos Magno, com suas vitórias na Germânia, na Itália e na Península Ibérica reconstruiu a Idéia de Império, tanto que, chegando a Roma, foi coroado pelo Papa, como Imperador do Ocidente. Esses séculos VIII e IX, séculos dos Carolíngios, representam aquela fase intermediária entre a Alta e a Baixa Idade Média. Nesta fase os Carolíngios reinam na França, na Germânia (Alemanha e outros estados do Leste, hoje eslavos) e no norte da Itália. O século X já pode ser considerado o início da Baixa Idade Média, com o princípio do Feudalismo. Na França, os Carolíngios foram sendo substituídos por seus primos Capetíngios, aos poucos, chegou a haver momentos que o trono era ocupado ao mesmo tempo, por um Rei Carolíngio e outro Capetíngio. Finalmente em 987, Hugo I Capet, reina sozinho na França, mas em uma França já feudal, onde os descendentes dos governadores das províncias nomeados pelos Carolíngios, se tornam vitalícios e hereditários, como Duques, Marqueses, Condes, Barões ou simples Senhores. No tempo dos Carolíngios, os Duques eram Governadores de Grandes Províncias Militares (Duque vem de “Dux”, chefe militar, em latim). Os Condes governavam Províncias Internas, mais próximas da Capital, (pois Conde origina-se de “Comes”, que em latim é um comensal, do Rei). Já os Marqueses governavam as Províncias de fronteiras, de marco, que determina a fronteira (a palavra é de origem alemã, “Mark”, assim na Alemanha os Marqueses são Markgraf (Condes do marco, enquanto os Condes, são os “Landgraf” – Condes da Terra). Finalmente os Barões governam províncias menores , ou sub-províncias (a palavra Barão origina-se em Varão, homem livre “vir”, em latim, homem livre, que não é escravo ou servo; equivale ao “Freiherr”, alemão que significa também Barão ou Homem Livre). Finalmente o simples “Senhor”, ou “Herr”, em alemão: ou “Dominus”, em latim, “Dom”, ou “Lord” em Inglês, ou Señor em espanhol, Senhor em português, que vem também da palavra “Senior” “Latina”, filho mais velho, o contrário do “Junior”.
Consequentemente, estes Senhores, Barões, Condes, Marqueses e Duques, antes nomeados pelo Reis ou Imperadores Carolíngios, agora na Baixa Idade Média pela fraqueza dos primeiros Reis Capetíngios, na França e pela decadência dos últimos Carolíngios da Alemanha, formam as Senhorias, os Baronatos, os Condados, os Marquesados (ou Marcas) e os Ducados, todos vitalícios e hereditários, que possuem trono, armas (brazão), exército, súditos, etc...
Forma-se a pirâmide hierárquica feudal da Baixa Idade Média, onde no ápice está o Papa, logo abaixo dele o Imperador do Ocidente (mais tarde Imperador do Sacro-Império-Romano-Germânico), depois os Reis; abaixo de cada Rei, os seus Duques, Marqueses, Condes, Barões e Senhores, hierarquizados, pela lei da subsidiariedade, não por documento escrito, como se fossem Estatutos ou Constituições, mas sim pela palavra, pela honra, pela “Homage”, cerimônia político religiosa, na qual o Senhor aceitava ou reconhecia ao Súdito, por meio de um galho de árvore, representando sua terra, parte dela, o feudo, e o súdito colocava suas mãos entre as mãos do Senhor, proferindo o ato de fidelidade e recebendo do Senhor “l’acolage”, o beijo, em ambas as faces, como o Pai beija o filho. Entenda-se aqui, que o Senhor e o Súdito, estão presentes em todos os degraus da Pirâmide Feudal. Por exemplo, o Rei é Senhor do Duque e portanto o Duque é súdito (ou melhor dizendo, vassalo) do Rei. O Conde é vassalo ou súdito do Duque e o Duque é Senhor do Conde, e, assim por diante. (Aqui só se citando a Realeza e a Nobreza, pois abaixo delas vinham ainda os Cavaleiros, os Burgueses, os Comuns e os Camponeses. Isso aconteceu, nesses termos, de maneira igual, na França e na Alemanha). Em circunstâncias semelhantes, na Inglaterra e em todos os países do Ocidente europeu. Na França, como já foi dito, os Capetíngios substituíram os Carolíngios, no século X, mas na Alemanha os Carolíngios ainda reinaram por mais um século. Alguns Carolíngios se casaram com as famílias dos Senhores alemães; pois na Alemanha deu-se fenômeno semelhante ao da França, instituindo o Feudalismo Germânico, que chegou a ter mais de trezentos feudos. O Feudalismo Francês foi sendo durante toda a Baixa Idade Média, a pouco e pouco, vencido pela autoridade do Rei, que no princípio, no século X, assemelhava-se a qualquer outro Senhor Feudal. Houve Duques mais poderosos que os Reis. Mas as duas guerras dos cem anos, foram dando ao Rei, mais terras e portanto maior poder.
Isso tudo aconteceu nos reinados dos Capetíngios diretos, depois dos Capetíngios indiretos, chamados de Valois. Quando foi, finalmente, a Inglaterra derrotada, na 2ª guerra dos cem anos, os Reis de França já dominavam todos os Senhores Feudais da França com certa facilidade (quando salientou-se Stª Joana d’Arc). Na passagem da Idade Média Baixa, para a Idade Moderna (século XV e XVI) os últimos Valois e finalmente os Bourbon (ramo mais colateral dos Capetíngios) já estão aptos a instaurarem o Absolutismo, ou seja, autoridade suprema dos Reis, sobre todos seus súditos, sejam do clero, da nobreza e das diversas categorias do povo, como verdadeiros Taumaturgos. Os Reis sempre foram taumaturgos, pelo menos a partir do primeiro Carolíngio, “Pepin le Bref”. Os anteriores, os Merovíngios, recém convertidos ao Cristianismo, eram mais chefes militares, chefes guerreiros do que Reis Taumaturgos. Pepin, entendendo que a Doutrina Cristã, ensinava que todo o Poder se origina em Deus, e portanto, não só o Poder do Papa e dos Clérigos, mas também o do Rei, se fez coroar em Reims, como Rei de França, e depois, pelo próprio Papa Estevão III, como já vimos. A partir de Carlos Magno, também coroado em Roma, é que a Monarquia absorve do Cristianismo, a idéia da taumaturgia. Essa idéia esse caráter de origem divina, deu a Carlos Magno e a seus sucessores Carolíngios, Capetíngios Diretos, Valois e Boubons, um enorme poder. Todos, a eles se submetiam, como a um representante do Poder Temporal de Deus, daí, o dobrar o joelho, as reverências, o protocolo, os tratamentos, etc... Mas, evidentemente, esse poder temporal de origem divina, só ganhou grande força, quando foi alicerçado pelas armas, pelas terras (poder econômico) e pelas vitórias militares.
Carlos Magno tinha tudo isso, mas seus sucessores, nem sempre os tiveram. Houve grandes momentos de Poder, como, por exemplo, a implantação do Sacro-Império-Romano-Alemão pelos Príncipes da Saxônia, Otto I, Otto II e Otto III, mas houve também decadências originárias de divisões, por heranças, de guerras e traições. A França de S. Luis IX Capetíngio Direto (1226-1270) portanto século XIII, era o primeiro Reino da Europa, mas já seus bisnetos e depois os Valois, deixaram os ingleses conquistarem grande parte do Reino. A segunda Guerra dos Cem Anos, a mais conhecida com esse nome, fez da França uma só desgraça. Foi necessária a intervenção divina, com Stª Joana d’Arc, para a França coroar seu Rei Carlos VII (Valois) e restaurar sua unidade e dignidade.
Esse poder divino dos Reis atingiu com Luís XIV e Luís XV (Boubons) um exagero inconcebível. Um Duque qualquer preferia largar seu castelo e suas terras, para residir em Versalhes, em pequenos aposentos, mas perto do Rei, podendo trinchar sua carne, à mesa, ou vestir sua camisa, ao acordar. Porque o Rei era o sol de sua vida (Roi Soleil), quase um deus.
A Doutrina Católica nos ensina que todo o poder origina-se em Deus, pois só Deus é Poder, porém, no caso dos governantes temporais, sejam monárquicos ou republicanos, isto só se verifica: 1) se o governante reconhecer que seu poder vem de Deus, e através da Igreja, portanto do Papa, e do povo; 2) se houver respeito, amor e devoção do povo pelo soberano ou presidente, isto significa que Deus concede àquela pessoa o direito de governar e a Igreja o reconhece como tal. Do contrário, o Rei ou Presidente são ilegítimos. Já no Antigo Testamento Saul tinha sido ungido pelo Profeta Samuel. Anos depois, o rei estava preste a enfrentar um exército filisteu, e o Profeta não aparecia para abençoar o exército israelita. Seus generais insistiam para que o Rei começasse a guerra, mesmo sem a bênção do Profeta, e argumentavam que talvez Samuel fosse um falso Profeta. Saul respondeu: “Se Samuel for um falso Profeta, eu sou um falso Rei”. Hoje, podemos dizer, repetindo a frase de Saul dentro do contexto antes explicado 1) Se o Rei ou Presidente não reconhecer a Igreja como a representante na Terra do Poder de Deus e a ela submeter-se, esse Rei e esse Presidente, são falsos (ilegítimos) 2) Se o Rei ou Presidente não reconhecerem que seus poderes vêm de Deus, não só pela Igreja, mas também pelo amor, respeito e devoção de seus povos, também são falsos Reis e falsos Presidentes.
Os governantes governam, já diziam os medievais, “Pola Lei e Pola Grey” (Português antigo, que significa: Os Governantes só governam legitimamente, pela Lei de Deus e pela vontade do Povo.)

FIM

terça-feira, 12 de agosto de 2008

TIRADENTES

Tiradentes
Otto de Alencar de Sá-Pereira


Tiradentes é um dos mais graves enganos da História, contada a partir da república. Há algumas décadas passadas celebrava-se o 21 de abril. Nada mais justo: descobrimento do Brasil: Agora não. O 21 de abril passou há um dia qualquer desapercebido de comemoração, fazendo o povo esquecer-se da data. E aí passou-se a celebrar o 22 de abril de abril: Tiradentes! Mas, por que Tiradentes? O Império tivera, em sua história, muitos ícones a comemorar. Além de D. Pedro I, de D. Pedro II, de D. Leopoldina, de D. Amélia, de D. Thereza Christina e da Princesa Isabel, o Império tivera Caxias, Osório, Tamandaré, Barroso, Porto Alegre, Zacarias de Góes e Vasconcellos, Paraná, Paulo Barbosa, Ouro Preto, Alencar, Castro Alves, Amoedo, Gonçalves Dias, Silveira Martins, Ferreira Viana, Carlos Gomes, Mena Barreto, Pirajá, etc. etc. etc.
A República precisava também de um ícone. Deodoro... nem pensar! Arrependera-se de ter proclamado a República e era amigo do Imperador. Floriano Peixoto? Credo em Cruz! Mandou passar a fio da espada, 400 guardas-marinha da Esquadra Imperial, na Revolta da Armada. Prudente de Morais? Não. Chacinou Antônio Conselheiro e todos de Canudos. Campos Salles? Rodrigues Alves? Affonso Penna? Não poderiam servir. Antes da República, eram Conselheiros do Império. Barão do Rio Branco? Como um ícone da República pode ser um Barão? Jamais. Santos Dumont? Era amigo íntimo da Família Imperial no exílio de Paris. Oswaldo Cruz? Foi um grande médico, sanitarista, do período republicano, mas discípulo de outro médico, o Barão de Motta Maia, que acompanhou a Família Imperial, no exílio.
Marechal Rondon? Talvez, mas tinha sangue e cara de índio! Washington Luís? Foi deposto por Getúlio, não serve também. Quem sabe, o próprio Getúlio? O homem dos trabalhadores. Mas... como, ícone de uma República que se diz liberal e democrática... um ditador? Amigo de Hitler, de Mussolini e de Plínio Salgado, que, por sinal, traiu? Juscelino? Fez Brasília! Mas acelerou a inflação e tinha cara de palhaço. Também não serve. Jânio Quadros? Era louco! Mas, então quem? Não há ninguém? Será possível? Villa-Lobos? Gênio da música, mas era um boêmio. Não serve. Foram escarafunchar, na História Colonial, anterior à vinda da Família Rela Portuguesa. Beckman? Não, tem nome alemão. O Sabino, da Sabinada da Bahia? Não serve, não tem perfil de ícone. Os mais antigos? Duarte Coelho, Tomé de Souza, Duarte da Costa, Mem de Sá?
Não podem! Foram nomeados pelo Rei de Portugal e eram seus súditos fiéis. Então, quem? Havia um alferes (sub-oficial) em Ouro Preto, que foi patriota de fato. Participou da conjuração Mineira de 1789 (conhecida como Inconfidência Mineira) que queria a independência de Minas Gerais, da Coroa Portuguesa, e era republicano, e foi o único que se declarou, de fato, revolucionário, enquanto os outros negaram, em Tribunal. Os outros eram importantes, Padres, Juízes, desembargadores, poetas famosos, Coronéis, outros oficiais, etc...etc... Mas todos, ou se mataram na prisão (como Alvarenga Peixoto) ou traíram seus ideais negando sua participação na Inconfidência. Tanto que a pena de morte foi reformada em exílio perpétuo para a África (que não foi perpétuo, pois 33 anos depois, D. Pedro I proclamava a independência (não só de Minas, mas do Brasil todo) e eles puderam voltar (alguns voltaram já no tempo de D. João VI). Nenhum deles, portanto, serve de ícone republicano, mas e o alferes? Não é muito insignificante? Ainda mais que nas horas vagas era barbeiro, e como, costume da época, também arrancava dentes: “Cabelo, barba e dentes”, por favor, e o fulano sentava-se, corajosamente, na cadeira do “Tiradentes”. É insignificante e acabou louco, antes de ser enforcado. (Se é que foi, há dúvidas; como era “masson”, o teriam salvo e trocado por outro, também condenado à morte. Suspeita-se). É um simples alferes, tirador de dentes. Não faz mal. Nós o inventamos. Com quem ele precisa parecer-se? Claro! Com Jesus! O mártir da pátria! Vamos por lhe barbas (os enforcados tinham cabelo e barba raspados, antes da execução). E criar sua História” Será o Ícone da República, já que não há nenhum outro. Foi um patriota republicano. Haverá dúvida? Mas por que não agiu como os demais, tirando o corpo fora? Terá sido mesmo como patriota? Ou como irresponsável, por causa da loucura?
A conjuração, antes de ser descoberta pelas autoridades da coroa-portuguesa, ia de vento em popa, embora com tão poucos partícipes, que podiam reunir-se na sala do poeta Tomaz Antônio Gonzaga (o Dirceu da Marília). Todos eram homens de estatura alta, ou da política ou intelectual, ou militar, etc. entre os de pequena estatura, contava-se Joaquim José da Silva Xavier, o alferes, tiradentes. Era jovem, robusto e patriota (pelo menos parecia ser), logo, a figura indicada para ir, de viagem ao Rio de Janeiro, a fim de encontrar aderentes à Inconfidência. Foi mandado, quase como um moleque de recados. Como não tivesse muita instrução, nem tino político, ou lábia publicitária, fracassou. Todas as portas que visitou no Rio de Janeiro, lhe foram fechadas, ou melhor ainda, lhe eram batidas na cara. Fora! Não queremos nada com você! Fruto da revolução lá dos franceses; fora! E foram tantos os foras, que o já fraco equilíbrio psíquico do Tiradentes, tornou-se em loucura. Voltou para Ouro Preto, ou vila Rica, como também era chamada a capital da capitania. A volta foi mais dura que a vinda, pois se na vinda sofrera as agruras de viajante daquele tempo, pelo menos havia a esperança! À volta, teve as mesmas agruras, mas sem a esperança. E a falta da esperança aumentou a insanidês. Pousava em fazendas, do caminho. E nas casas-grandes dos fazendeiros, (em geral ligadas ao Marquês de Barbacena, governador das Minas Gerais), contava, à mesa, que tropas do Rio de Janeiro marchariam, em breve, para engrossar os exércitos de revolucionários de Ouro Preto, que a França e os Estados Unidos enviariam esquadras, para combater o Vice-Rei, no Rio de Janeiro, impedindo-o de ajudar o Barbacena. E assim por diante. Em cada parada, até Ouro Preto, aumentavam seus delírios. Resultado: O Marquês de Barbacena ficou sabendo de tudo, antes mesmo que o traidor Silvério dos Reis, lhe contasse. Por isso não deu guarida ao Silvério e mandou prendê-lo também. Também, porque, mal Tiradentes chegou a Ouro Preto foi encarcerado, junto com todos os outros inconfidentes, que ele havia delatado, na mais pura ingenuidade dos insensatos e loucos! Como já dissemos foram todos a Tribunal, e negaram; menos ele. O processo chegou a Lisboa e o Alto Tribunal da Corte, condenou todos à pena máxima: forca! Mas reinava em Portugal uma mulher, a Rainha D. Maria I, que ainda não tinha perdido suas faculdades mentais. E como mulher e bondosa católica reformou a sentença de morte, para degredo em Angola, menos para Tiradentes, que havia confessado o crime de lesa majestade. (Dizem que mais tarde, D. Maria I, melhor informada da insanidade de Tiradentes, reformara também sua sentença, para degredo, mas a reforma da sentença, teria chegado tardiamente, pois Tiradentes já tinha sido enforcado).
O Ícone da República, o alferes Tiradentes, é uma figura tão paradoxal, quanto à própria conjuração que se pavoneou do título de Inconfidência. Que não conhecendo bem o latim, não entendeu porque a Coroa Portuguesa chamara o movimento de Inconfidência. Porque “Inconfidere”, em latim é o contrário de “Fidere”. “Fidere é confiar”; inconfidere” é desconfiar. Ou melhor: desconfia-se de quem é traidor, inconfidente: Traidores da Coroa. Até hoje, infelizmente, em Ouro Preto , na Praça, Central, sobre o portal da Casa da Câmara está escrito “Museu da Inconfidência” ou seja: “Museu da Traição”.
Fim.

PAIXÃO E MORTE DA PRINCESA D. ISABEL A REDENTORA

Paixão e Morte da Princesa D. Isabel,
A Redentora
Otto de Alencar de Sá-Pereira


Muitos a tratam de D. Isabel I, a Redentora. Por que? Porque ela, de fato, ocupou a Chefia do Estado, reinou, como Regente do Império, por três ocasiões, nas viagens ao exterior de seu augusto Pai, D. Pedro II. Somando-se o tempo destas três regências, eqüivale, mais ou menos, a um quadriênio republicano. Além disso, ela foi nossa Imperatriz, no exílio, desde a morte de D. Pedro II em 1891, em Paris, até seu próprio passamento, em 1922, no Castelo d’Eu. Sim, ela foi nossa Imperatriz no exílio, “de jure” (de direito), uma vez que, a república, no Brasil, foi imposta por um golpe militar, que não consultou a Nação. Aliás, é o próprio primeiro decreto republicano, que institui as novas Forma e Sistema de Governo (República-Presidencialista) que o confessa, pois esta Lei (decreto nº 1 da República), declara “Proclamada provisoriamente, a República no Brasil, até sua confirmação, por “referendum popular”, e ainda diz, “como deve ser”. Ora, este “referendum” nunca aconteceu, portanto a República permaneceu provisória. É verdade, que, em 1993, graças ao Deputado Cunha Bueno, houve um Plebiscito, para o Povo escolher entre as Formas de Governo – Monarquia ou República – e entre os Sistemas – Presidencialismo ou Parlamentarismo. E a República Presidencialista saiu vitoriosa. Entretanto este Plebiscito ocorreu 104 anos depois da pseudo proclamação da República, logo, na melhor das hipóteses, a república ficou provisória por 104 anos. Por que, na melhor das hipóteses? Porque este Plebiscito de 1993 pode ser considerado inválido, por inúmeras razões, que não cabem ser explicadas neste artigo (a propósito, leia-se o livro “Diálogos monárquicos” de nossa autoria).
A Paixão da Princesa D. Isabel, popularmente conhecida como Princesa Isabel, começou cedo, logo que tomou, pela primeira vez as rédeas do governo da Monarquia, como Regente. Ela vivenciou oficialmente, o problema da escravidão, problema este que, como um espinho em seu coração, ela já sofria, desde que tomou o uso da razão. Ela sofria, mas nada podia fazer, a não ser pedir a seu Augusto Pai que alforriasse escravos ou que incentivasse o Parlamento e os Gabinetes de Ministros a produzirem leis abolicionistas. Os dois espinhos de sua coroa, que entitulamos de Paixão, foram, fora de dúvida, a escravidão e a traição com que seu Pai e toda a Família Imperial foram atingidos, pela instauração à força da República no Brasil. O problema da escravidão, ela julgou ter solucionado, pela Lei Áurea, de 13 de maio de 1888, em sua terceira Regência; mas, sem querer, com esta lei ela impulsionara a derrubada de um Império tão sólido, tão próspero e tão democrata. E às escondidas do Povo em uma noite nebulosa de 16 para 17 de novembro de 1889, a Família Imperial foi exilada, no desconhecimento total do Povo e da Nação. Estes foram os dois espinhos que, da Coroa de Espinhos de N. Senhor Jesus Cristo, implantaram-se no coração da Princesa, como uma nova Rita de Cássia. Depois do sofrimento, que durante anos agüentou pela convivência com a escravidão, o segundo sofrimento, não foi tanto à instauração da república, em si mas sim, o modo como ela foi estabelecida, pela traição. Traição à Nação, traição a seu Pai, Traição à sua Família e traição também a ela, pois a República punha em derrocada o terceiro Reinado, que seria o seu para o qual ela já tinha dado provas, mais do que cabais, de competência para exercê-lo em suas Regências.
Traição à Nação, uma vez que tratou-se de um golpe militar, no qual, a não ser a cúpula de comando, os próprios soldados, não sabiam o que estava se passando. Seria uma parada? O povo conhecia menos ainda o que ocorria. Só veio a saber, o povo carioca e fluminense, dois dias depois que a Família Imperial já tinha sido exilada. Nos outros estados (na época províncias) só semanas ou meses depois. No Amazonas, só dois anos depois. Mas houve mesmo golpe militar? Havia republicanos no Brasil? Os republicanos teriam sido os autores do golpe militar? Respondendo às três perguntas, podemos afirmar que havia uma cúpula política de republicanos. Muito poucos, entretanto, pois, apesar de possuírem um Partido Republicano não conseguiam eleger, em cada legislatura, se não, dois ou três deputados. Constataram que, democraticamente, não conseguiriam nunca instaurar a república no Brasil. Apelaram para a força. Mas que força? A Marinha e o Exército eram fidelíssimos ao Imperador. Colocá-los em confronto com a Coroa, parecia impossível. Tentaram então derrubar o Gabinete de Ministros. Seria um primeiro passo para derrubar a Monarquia. Fomentaram desavenças entre os militares e principalmente do Exército e os políticos civis. Qualquer atitude do Gabinete de Ministros, em relação a militares, era o suficiente para botarem lenha na fogueira.
O Major Fulano foi mandado para a fronteira com a Bolívia? Que absurdo! Coitado do Major! Isso é perseguição dos políticos contra os militares. Algum militar não foi promovido em tempo útil? Outra afronta contra as Forças Armadas! E as brasas da fogueira crepitaram cada vez mais! Na Marinha, quase nada. A Marinha sempre foi muito fiel à Coroa. Mas no Exército, de fato, havia problemas. Os militares graduados, que tinham voltado da Guerra do Paraguai, condecorados, intitulados Barões ou Condes, queriam participar da política. O Imperador e os políticos civis, não gostavam da participação de militares na Política. Os grandes generais, da Guerra do Paraguai, como o Duque de Caxias, o Conde de Porto Alegre, o Marquês de Herval (Osório) já tinham morrido. A figura proeminente no Exército era portanto o Marechal Deodoro da Fonseca, de família empobrecida de Alagoas, que tinha sido muito ajudada pelo Imperador. Deodoro, poucos dias antes da Proclamação da república, escrevera a um sobrinho, na Bahia: “República, no Brasil, é sinônimo de desgraça completa”. Os republicanos sabiam que só ele, o homem forte do Exército, teria meios de tornar a república, algo realizável. Entretanto Deodoro se considerava amigo do Imperador. Nunca iria contra ele. Mas, contra os Ministros, talvez, sim, pois para Deodoro, depois do Brasil e do Imperador, o que mais valia, era sua farda. Algo contra sua farda, contra o Exército, da parte dos políticos, os casacas, como ele os chamava era impensável. Os republicanos sabiam disso, e aproveitaram-se. Foram tirar da cama, o pobre Marechal, febril numa crise de erisipela, para fardá-lo, e comandar uma tropa, para vingar a honra dos militares, manchada pelo Gabinete do Visconde de Ouro Preto. Ao chegarem ao Palácio, onde ser encontrava reunido o Gabinete de Ministros o Marechal e sua tropa cercou-o e, não havendo contra-ofensiva da tropa governamental (comandada por Floriano Peixoto, que se dizia monárquico, mas era republicano, ou oportunista), permitiu que Deodoro fosse enfrentar, cara a cara, o Visconde de Ouro Preto. Se Deodoro era um touro bravio, Ouro Preto era um leão de bravura. A discussão foi violenta, e não se chegou a nada, a não ser a vitória da força bruta, (como diria La Fontaine, no início de sua fábula do lobo e do cordeiro: “La raison du plus fort c’est toujours la meilleure, nous allons montrer tout à l’heure” – a razão do mais forte é sempre a melhor, nós vamos mostrar agora), pois, ao sair do Gabinete do Primeiro-Ministro, aos berros e pondo fogo pelas ventas, Deodoro determinou: “este Gabinete de Ministros está demitido e a todos estou dando ordem de prisão.” Estava derrubado o Governo, mas não o Estado. Ou seja, o Primeiro-Ministro (Presidente do Conselho de Ministros) e os demais Ministros, mas não a Coroa não a Monarquia. Tanto é verdade que, 1º: O Deodoro autorizou o Visconde de Ouro Preto (ex Primeiro Ministro) a telefonar para Petrópolis, pedindo ao Imperador que descesse ao Rio, para formar novo Gabinete de Ministros, como exigia a “praxis” da Monarquia Parlamentar, pois o país não podia ficar sem governo. O Gabinete de Ministros tinha sido derrubado inconstitucionalmente, mas o fato concreto, é que tinha sido derrubado. 2º: Os líderes republicanos não se desligavam de Deodoro, não satisfeitos com, só a derrubada do Gabinete de Ministros, e a não derrubada da Monarquia (diga-se, de passagem, que, naquela momento histórico, se o Deodoro tivesse querido, podia tê-lo feito, e já tinham até redigido um documento de Proclamação da República, a que Deodoro, peremptoriamente, recusava-se a assinar.
Derrubado o Gabinete de Ministros, o Imperador avisado pelo Visconde de Ouro Preto, (o ex Primeiro Ministro), desceu calmamente de Petrópolis, e reuniu-se com os líderes do Partido Majoritário, na tentativa de formar um novo Governo. Era o que tinha de ser feito. Depois, o Imperador chamaria Deodoro em particular, para acertar os ponteiros; Afinal, Deodoro agira, contrariando a Lei Magna de Nação. Nessa reunião do Imperador com os Parlamentares da Situação, algum deles sugeriu o nome de Silveira Martins, mas, como o Deputado gaúcho encontrava-se junto a suas bases políticas, no Rio grande do Sul, seu nome foi imediatamente alijado. Entretanto, não sabemos por que cargas d’água?, encontrava-se no ambiente, o Major Solon Ribeiro. Talvez como oficial ajudante de ordens de algum general presente. Ele era republicano “tout court” e percebeu ali a ocasião propícia de criar um incidente, que redundasse na Proclamação da República. Por que? Ele conhecia beníssimamente a rivalidade que existia entre Deodoro e Silveira Martins. Quando Deodoro servira no rio Grande do Sul, como Comandante Militar, o Presidente da Província era Silveira Martins. Tornaram-se inimigos políticos e também rivais de relações extraconjugais. Ambos eram casados, mas ambos tinham a mesma amante e esta dava preferência ao Silveira Martins. Existia ódio entre os dois. O Major Solon elaborou então, naquele momento, em sua mente doentia, uma idéia que certamente ia provocar a Proclamação da República. Esta idéia, que ele logo a pôs em prática, era de sair dali, a todo galope, provocando o brio dos militares e principalmente, do Deodoro. Seria espalhar, como um novo Calabar, o boato fatídico que atingiria, como um dardo o coração de Deodoro. O boato consistia em dizer que o Imperador dera ordem de prisão ao Deodoro e que nomeara o Silveira Martins para Presidente do Conselho de Ministros. Quando este boato chegou à casa de Deodoro, como uma granada, explodiu. Deodoro julgando que o Imperador fizera aquilo, especialmente para feri-lo, arrancou das mãos dos republicanos, a Proclamação da República, e com ódio nos olhos, disse: “Dê-me cá esse papel” – e assinou-o. Estava proclamada a república do Brasil! – Quando a verdadeira notícia chegou, de que não havia nenhuma ordem de prisão contra Deodoro, e que o Presidente do Conselho nomeado tinha sido o Conselheiro Saraiva, Deodoro caiu em depressão, e declarou ao oficial que tinha trazido a verdadeira notícia: “Tarde de mais!” Por que tarde de mais? Comparo a posição de Deodoro, nestas circunstâncias, com o Patriarca Isaac, do Povo Hebreu, que, enganado, concedera a Benção Taumaturgica antes da morte, ao filho Jacob, em lugar de dá-la ao primogênito Esaú. Quando soube da verdade, por que Isaac não voltou atrás? Não podia, a Benção era uma só. Por que Deodoro não voltou atrás? Porque também não podia; ele, na frente de todo o grupo de republicanos históricos, dera, por escrito, naquele papel, a sua palavra final. De rancor contra o Major Sólon, ordenou que fosse ele, o encarregado de dar a notícia ao Imperador (todo este assunto, encontra-se, também mais bem pormenorizado, no Livro “Diálogos Monárquicos”, de minha autoria).
Uma mulher tinha sido o “pivô”, que impedira o Reinado de outra mulher, a Imperatriz do Brasil D. Isabel I. O Brasil já tivera três Imperatrizes D. Leopoldina de Áustria e D. Amélia de Leuchtemberg, consortes de D. Pedro I e D. Thereza Christina de Bourbon das Duas-Sicílias, consorte de D. Pedro II. Com D. Isabel I, entretanto, o Brasil teria, forçando a língua portuguesa, não uma Imperatriz, mas uma “Imperadora”, não a esposa de um Imperador, mas ela mesma a Chefe de Estado, assim como sua contemporânea a Rainha Vitória da Inglaterra, ou sua antepassada, a grande Maria Thereza de Áustria Imperatriz (Imperadora) do Sacro-Império-Romano-Alemão e “Rei da Hungria”. Ou como a atual fantástica soberana da Inglaterra Elizabeth II. Essa foi a Paixão de D. Isabel.
Retirada para o exílio junto com seus pais, teve início sua morte, que foi lenta. Primeiro com a perda de sua Mãe D. Thereza Christina, um mês apenas depois da Proclamação da República, no Porto, em Portugal. Dois anos depois, com a morte de seu Pai, D. Pedro II, em Paris, a cinco de Dezembro de 1891. Em seguida, com a renúncia de seus direitos, ao trono do Brasil de seu primogênito D. Pedro de Alcântara. Mais tarde em 1919, com o acidente aéreo que tirou a vida de seu 3º filho o Príncipe D. Antônio (que nunca se casou), seguido da morte de seu herdeiro presuntivo, o 2º filho, Príncipe D. Luiz (pai de D. Pedro Henrique, neto de D. Isabel, que a sucedeu), em 1920.
Seu espírito e seu corpo não agüentaram tantas agruras e ela veio a falecer em 1922, no ano que o Governo da República suspendera a Lei que bania a Família Imperial do território nacional. Morreu santamente, era católica piedosíssima e embora não tenha ainda sido canonizada, em caracter particular podemos rezar a ela “Sancte Isabele” “Ora pro nobis”.
Fim.

Otto de Alencar Sá Pereira

O SACERDÓCIO E O IMPÉRIO

O Sacerdócio e o Império

Otto de Alencar de Sá-Pereira

Personagens desse artigo:

1) Sua Santidade João Paulo II, O Papa da Igreja Universal, Bispo de Roma, Patriarca do Ocidente, vigário de Jesus Cristo, Servo dos Servos de Deus, Soberano do Estado do Vaticano, etc.
2) Sua Alteza Imperial e Real o Arquiduque Otto de Habsburgo-Lorena, Chefe da Casa Imperial Austríaca, Real da Hungria e da Bohêmia, da Croácia, da Eslovênia, etc (Herdeiro do Trono do Sacro-Império-Romano-Alemão, extinto, em 1805, por Napoleão com o título de Sacra e Cesárea Majestade Imperial e Real Apostólica) atualmente deputado ao Parlamento Europeu, pelo Estado da Baviera, com o nome de Dokctor Otto Von Habsburg.

Histórico do artigo

O Grande Papa Leão XIII, o Pontífice da questão operária, pela sua encíclica “Rerum Novarum”, cujo pontificado começou no início do século XIX, e terminou nos princípios do XX não foi só o Papa das questões sociais. Abordou muito, também, questões políticas, do relacionamento entre o Poder Espiritual e o Temporal, mostrando que o Poder Temporal devia guiar-se pelo Espiritual como o corpo se orienta pela alma. Não temos certeza se foi na encíclica “Diuturnum Illud” ou “Imortale Dei”, ou em outro dos seus inúmeros documentos, que Leão XIII referiu-se à Idade Média, chamando-a de “Doce Primavera da Fé”. Nela, evidentemente com outras palavras, o Papa diz: “houve tempo em que o Sacerdócio e o Império mantinham um feliz consórcio no qual, cada um cuidando de seus negócios, não deixava de entender que os temporais deviam se guiar pelos espirituais, no que diz respeito à Fé, à Moral, aos Costumes, etc” Infelizmente, as palavras de Leão XIII, como as de seus antecessores ou sucessores, nem sempre foram seguidas pelos homens, principalmente a partir do Renascimento e especialmente após a nefasta Revolução Francesa.
Opositores surgiram, a partir do século XV, e, chegando ao ápice nos séculos XVIII e XIX; seitas religiosas que se afastaram da Igreja de Cristo (Pedro, tu és pedra, e sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja); idéias que se opunham à Filosofia Cristã, e que até combatiam a Santa Igreja, em Sua Doutrina, assim com em Sua Estrutura.
Pio VI sofreu as conseqüências da Revolução Francesa, sendo até encarcerado, Pio VII teve que agüentar os insultos de Napoleão, sendo obrigado a ir a Paris, para coroá-lo Imperador dos franceses, (A Providência Divina, entretanto, não abandona seus filhos, utilizando-se até dos demônios, para defendê-los. No caso, os demônios insuflaram o orgulho de Napoleão, e esse, retirando a Coroa das mãos do Papa, coroou-se a si mesmo, Imperador dos franceses. Seu orgulho, vaidade e seu ateísmo livraram a Igreja e a Cristandade, de uma enorme e triste responsabilidade: ter coroado um soberano ilegítimo, imposto pela força das armas) Os Papas do século XIX, como Gregório XVI e Pio IX, e outros, presenciaram as seitas secretas combaterem a Santa Igreja e a estrutura das Monarquias européias, e o surgimento do capitalismo desumano e do socialismo revolucionário e do comunismo ateu.
Os Papas, nessas borrascas, não deixaram nunca de se fazerem ouvir e seguir por suas palavras, seus exemplos e principalmente suas orações. Mas o demônio, príncipe desse mundo, desde os fins da Idade da Fé, vem obtendo vitórias sobre vitórias, fazendo do homem contemporâneo, um ateu, prático ou teórico, ou a vez, as duas coisas. Quando os homens de hoje não são ateus, são inimigos de Deus e de Sua Igreja. Algumas vezes inconscientemente, a maior parte das vezes por hedonismo, procura incansável dos prazeres terrenos, vaidade, orgulho, cupidez, maldade, desse modo, deixando Deus e a Igreja de lado.
Apesar de tudo isso, a figura, a palavra e o respeito pelo Papa, não deixaram de existir.
João Paulo II, o grande Papa, que teve, ao falecer, um reconhecimento internacional de suas virtudes, de seu poder e sua importância no Mundo cristão e mesmo não cristão, não só pelo povo, vindo de toda parte, que com silencioso respeito, desfilou durante horas a fio, ordenadamente, em fila, para ver, pela última vez, o seu pai espiritual, Vigário de Cristo na Terra, em seu catafalco, armado dentro da Basílica de S. Pedro, mas também de quase todos os Chefes de Estado e de Governo, Reis, Presidentes e Primeiros-Ministros, do Mundo, prestando-lhe as últimas homenagens (deve-se aqui ressaltar fotografia que foi publicada, em primeira página, de quase todos os jornais do Ocidente: ao lado do catafalco de João Paulo II, ajoelhados em oração, o Presidente Bush dos EE. UU., sua mulher, seu pai, o Ex Presidente Bush, o ex Presidente Clinton, e a Secretaria de Estado Condolezza Rizzi).
João Paulo II (o antecessor do também extraordinário Papa, o nosso atual Bento XVI), fez em 1988, uma visita ao Parlamento Europeu. Quando estava na tribuna, falando à Europa inteira, deu-se o mais afrontoso e desrespeitoso acontecimento, ocorrido no século XX: Um deputado da Irlanda do Norte, protestante, porém provavelmente louco e fanático, exasperou-se, pôs-se de pé, interrompendo o discurso do Papa, e passou, em alta voz, a ofendê-lo, chamando-o de o Anti-Cristo.
(Napoleão, em suas vitoriosas andanças pela Europa, havia abolido o multi-secular “Sacro-Império-Romano-Alemão”, que apresentara-se nos últimos cinco séculos, por Imperadores da Casa de Habsburgo, os quais constituíram-se de 1815 a 1918, como Imperadores do Império Austro-Húngaro, mas que guardaram em face a toda a Europa, o prestígio dos antigos Imperadores do Sacro-Império).
Naquele momento ultrajante, no qual um louco herético, em 1988, no Parlamento Europeu, investe contra a Sacro-Santa Pessoa do Papa, do Vigário de Cristo na Terra, foi como se se apagassem os 173 anos, que separavam aquele momento, da extinção do Sacro-Império. Dokctor Otto Von Habsburg, ou seja, aquele que seria o Imperador do Sacro-Império, o Deputado pela Baviera, o Arquiduque de Áustria, com seus 70 anos, levanta-se do seu lugar, e, com santo furor, avança contra o autor do ultraje, “manu militari”, segurando-o fortemente pela ola do casaco, ajudado por outros deputados católicos, e colocando-o para fora do recinto violentamente. Naquele momento o Sacerdócio, ou seja, a Tiara, teve novamente a ajuda da Coroa Imperial, com todo o amor e devoção, que os Imperadores do Sacro-Império sempre tiveram, com raras exceções, pelo Papado.
A frase de Leão XIII fez-se presente naquele momento: “Feliz consócio entre o Sacerdócio o Império”. Naquele momento, voltou-se, por instantes, à Doce Primavera da Fé.