terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

AS PROVAS DE DEUS


As provas de Deus

• Trabalho não-publicado - 01/02/2007 •
Otto de Alencar de Sá-Pereira
I
Deus deu ao homem a potência da Vontade, ou Livre Arbítrio para que ele, usando de suas outras potências, a Racionalidade e a Sensibilidade, escolhesse livremente entre fazer o bem ou fazer o mal.
Os minerais, os vegetais e os animais irracionais, cumprem à risca, a Vontade de Deus, justamente porque não têm alma, com suas potencialidades racionais, sensitivas e volitivas. Portanto, seguem as Leis da Natureza, que são as Leis Matemáticas, Físicas, Químicas, Astronômicas, Biológicas, etc, que têm Deus como Autor; e assim, não pecam, pois jamais contrariam a Vontade do Senhor.
Ao homem, contudo, Deus destinou outros caminhos; pois, desde toda a Eternidade, Ele queria unir-Se ao homem, para que esse ser, material e espiritual, ao mesmo tempo, pudesse gozar de Sua glória, de Seu Saber, de Sua Luz e Beleza de Sua Felicidade, etc, eternamente.
Aos Anjos, puros espíritos, portanto superiores ao homem, Deus submeteu-os uma única prova. E essa Única Prova permitiu que os Anjos que escolheram bem, preferindo o Bem, como na frase de S. Miguel Arcanjo: “Quis ut Deus?” Permanecessem na Glória, na companhia do Altíssimo.
E os outros, que escolheram mal, por orgulho, pretenderam ser como outros deuses, estes foram, para sempre, precipitados no Inferno, ou Reino das Trevas e da Iniqüidade, e são Lúcifer ou Satanás e seus sequazes, os demônios. Isto aconteceu com os Anjos, porque estes, de natureza muito superior aos homens, tinham, tem e sempre terão o conhecimento instantâneo de todas as coisas. Alguns teólogos chegam a explicar, a revolta destes anjos-demônios, a um fator muito específico. Conhecendo o futuro, eles puderam constatar, que seriam obrigados a adorar e servir, a um Homem-Deus, que, enquanto Homem, seria de natureza inferior à deles: Jesus Cristo, Nosso Senhor. O orgulho de muitos não aceitou esta situação. E ainda pior, deveriam servir a uma Mulher, Mãe de Jesus, que seria a Rainha dos Anjos; um ser somente de natureza humana, e que nem era homem, mas mulher: Maria Santíssima! Seu incomensurável orgulho, não poderia entender, a maior de todas as Qualidades, a Humildade, fruto das Virtudes Teologias: Fé, Esperança e principalmente Caridade, e portanto, não viram que Maria, possuindo essa Qualidade e essas Virtudes, em grau sublime, era Ela a obra prima de Deus!
O homem, entretanto, não era Anjo. O conhecimento do homem dependia da Inteligência, da Racionalidade, da Sensibilidade e da Vontade, dependia do equilíbrio ou desequilíbrio destas Potencialidades, era portanto, mais lento. E o homem vivia no tempo e não na Eternidade. Destinou-se à Eternidade, mas vivia no tempo; logo, não poderia ser submetido a uma Única Prova.
E então, nos narra a Sagrada Escritura e a História, tiveram início as Provas: A primeira, aconteceu ainda no Paraíso Terrestre: Deus deu ao homem o poder sobre toda a Natureza. Mas pôs o homem à Prova. E Prova de Fidelidade e de Amor: “Não comerás do fruto da árvore do conhecimento do Bem e do Mal”. E o homem, tentado pelo demônio, em forma de serpente, e também por sua companheira, Eva, o comeu, faltando com a Fidelidade e Amor a Deus, que tudo lhe tinha dado, a começar pela própria existência.
Esta foi a Primeira Prova, e que acarretou no pecado original, com todas suas conseqüências maléficas para a Humanidade.
Se nessa Primeira Prova, o homem foi infiel, na Segunda, ao contrário, foi de uma Fé espantosa. Noé constrói uma arca, em região montanhosa, longe de qualquer mar, lago, rio ou lagoa, só porque Deus lhe mandou que o fizesse. Essa Prova Deus gostou; porque a Fé consiste, exatamente, em obedecer à Palavra de Deus, por mais absurda ou paradoxal que ela pareça ser. E Noé, ainda teve que sofrer, o deboche e a chacota de seus vizinhos e contemporâneos, e até mesmo a dúvida de sua sanidade, por parte da mulher, filhos e noras.
E veio o dilúvio e a Fé de Noé salvou a Humanidade, da completa extinção.
Chegamos agora, cronologicamente (embora, talvez pulando Provas menores da História do homem), ao episódio de Fé e Amor, mais lindo do Antigo Testamento. É a figura magnífica do Pai do Povo Hebreu: Abraão!!! Deus lhe tinha dito: “Terás uma descendência tão numerosa quanto as estrelas do céu”; mas, sua mulher, Sara, era estéril e já atingira uma idade, na qual as mulheres não podem mais procriar. E Sara riu-se quando o marido lhe relatou a Palavra de Deus. E Sara não engravidava, pondo à Prova a Fé de Abraão, mas esse nunca deixou-se levar pela dúvida. Sara, entretanto, interpretou, à moda dela, a Vontade do Senhor. Convenceu o marido a dormir com sua escrava Agar, pois daí, nascendo um filho, esse seria de Abraão, embora bastardo, e se resolveria a questão, pois naquela época, os filhos das escravas com o Senhor, eram considerados filhos da Senhora. E nasceu Ismael, a raiz do povo árabe. Deus perdoou Abraão, e também abençoou Ismael, prometendo que este também seria o tronco de outro numerosíssimo povo. Mas, não seria ele o início da progênie prometida, e sim o filho que Sara viesse a ter. Sara não creu que Deus assim se tivesse manifestado, mas Abraão manteve a sua Fé, na Prova de Deus. Até que, milagrosamente, Sara, já na sua velhice, deu à luz Isaac. Parecia que a Prova de Deus, tinha sido finalmente realizada, graças à Fé inquebrantável de Abraão. Porém, Deus queria mais, pois conhecia bem seu filho Abraão. E ordenou a Abraão: Pega os instrumentos de sacrifício, e a lenha e leva teu filho à terra de Moriá, e sobre a montanha sacrifica-o a Mim, teu único filho. Abraão não entendeu mais nada, mas obedeceu. Isaac era o filho do milagre; aquele que constituía a esperança para que se realizasse a promessa de Deus a ele: “ Terás uma descendência tão numerosa quanto as estrelas do céu!” E essa esperança parecia ir agora águas abaixo, já que Deus ordenava o sacrifício de Isaac. A Prova de Deus era quase insustentável, mas Abraão obedeceu. Quando entretanto, o sacrifico estava prestes a se realizar, a mão do pai, já erguida empunhando o punhal sacrifical, sobre o filho amarrado sobre o altar, onde estava a lenha, para a cremação do corpo, após a punhalada, o Anjo do Senhor fez ouvir Sua voz, ordenando a interrupção do sacrifício, sendo o menino substituído por um cabritinho, que apareceu, tendo seus chifres presos nos arbustos. E a vos tonitruante fez-se ouvir. “Agora Eu sei que temes a Deus pois, não Me recusaste teu único filho!” Esta foi a maior Prova que Deus impôs ao homem, até chegarmos à época da Encarnação do Verbo de Deus. Mas, antes do Mistério da Encarnação, ainda outras Provas, Deus imporia ao homem porém veremos em próximos artigos.
II
Isaac, filho de Abraão, teve dois filhos gêmeos: Esaú e Jacob; E Deus continuou com Suas Provas. Esaú tinha nascido primeiro, portanto era considerado primogênito. Jacob era o segundogênito. Isaac preferiu Esaú, mas sua mulher e prima Rebeca tinha maior amor por Jacob. Rebeca, sem saber, estava certa por preferir a Jacob. (A Ciência, hoje em dia, está quase afirmando, que, em caso de gêmeos, o que nasce em segundo lugar é que é o primogênito, pois teria sido gerado primeiramente). Jacob era pastor e homem dado às coisas de Deus e do espírito era de pele lisa e quase imberbe. Esaú era caçador, tinha o corpo todo coberto de pelos e era dado mais às coisas dos homens e da matéria. Essa a razão pela qual Rebeca preferia seu filho Jacob a Esaú, embora amasse a ambos. Isaac também amava a ambos os filhos, mas tinha predileção por Esaú, por acreditá-lo primogênito. Isaac estava preso à Lei e pela Lei da época Esaú é que deveria ser o primordial herdeiro, que deveria receber a bênção principal do pai, antes desse morrer, e essa bênção, era como o “Mana” de tantos povos, uma espécie de Transmissão de Poder Espiritual e Temporal, algo de taumaturgia. Mas, como já disse, Rebeca tinha razão. O preferido de Deus era Jacob. Deus põe Isaac à Prova antes de morrer. As circunstâncias todos conhecem, mas não custa rememorar. Os dois irmãos estavam longe de casa; Esaú tinha ido caçar e Jacob ficara com suas ovelhas, e, para alimentar-se, cozinhava umas lentilhas. Chega Esaú, sem ter sido bem sucedido na sua caça, e pede ao irmão um prato de lentilhas. Jacob consente, mas sob uma condição: que Esáu lhe transferisse seus direitos de primogenitura. Esaú, morto de fome, aceita o acordo, certamente julgando que aquele ato jurídico de boca, não teria valor. Jacob comunica à sua mãe, o que se tinha passado, e ela vê naquilo, a mão de Deus. Mas, para todos os efeitos, inclusive para Isaac, Esaú continuava a ser o herdeiro. Passam-se os anos e Isaac, muito doente e cego, está para morrer. Chama Esaú e lhe diz que não quer morrer, sem antes provar do guisado de uma caça de Esaú. E este parte para a caçada. Ao comer o guisado, Isaac sabia que iria morrer. Rebeca ouvira a conversa do pai com o filho. Chama então Jacob e diz-lhe que corte a lã de uma ovelha e cubra seus braços e pescoço para se parecer com Esaú, enquanto ela preparava o guisado de um cabrito, de modo que Isaac gostava. Faz Jacob vestir as melhores roupas de Esaú, para ficar com o cheiro de Esaú e o manda apresentar-se ao pai, levando o guisado. Isaac desconfia da voz de Jacob, diferente da de Esaú, mas quando Jacob, aos pés da cama lhe apresenta o guisado, do modo que Esaú costumava cozinhar, e tocando nos braços do filho, o sente coberto de pelos, como os de Esaú, Isaac acredita ser mesmo Esaú e depois de comer concede-lhe a Bênção taumatúrgica, que era uma só. Quando Esaú volta e constata que tinha sido enganado, reclama com o pai. É aí que Deus põe Isaac à Prova. Pois este não volta atrás. A bênção taumatúrgica já tinha sido concedida, e não poderia ser substituída. E bem concedida, apesar do engodo. Pois Jacob era o verdadeiro herdeiro e tinha se casado com mulher de seu sangue, o que era indispensável, enquanto Esaú unira-se a estrangeira. Isaac sofrera a Prova de Deus, mas aceitou, não voltando atrás.
Jacob teve 12 filhos com suas mulheres e primas, Lia e Rachel, e também com algumas escravas de suas mulheres legais. Estes 12 filhos são a origem das 12 tribos de Israel. Todo israelita ou judeu, descende de um destes filhos de Jacob, por isso, Deus trocou o nome de Jacob para Israel.

Outras provas de Deus
III
O grande Camões tem um lindo poema bíblico, que assim se inicia:
Sete anos de pastor Jacob servia A Labão, pai de Rachel, serrana bela,Mas não servia a ele e sim a ela,Pois só a dela sua mão pretendia
De fato, ainda em tempos de Isaac, Jacob foi trabalhar nas terras de seu tio Labão, a mando do pai, para conseguir casar-se dentro de sua linhagem, como era o hábito. Labão tinha duas filhas: Lia e Rachel. Jacob fez um trato com o tio. Trabalharia para ele durante sete anos e depois receberia, como prêmio, a mão de Rachel, a quem amava. Passados os setes anos, o tio e sogro Labão, nãio obedeceu ao acordo, e lhe deu Lia, como esposa. Para conseguir Rachel, Jacob deveria trabalhar mais sete anos. (Deus permitia a poligamia, neste momento da História de Seu povo, talvez, segundo alguns teólogos, para formar o povo de Deus, fazendo-o crescer, pela poligamia). Assim foi, e Jacob, depois de sete anos obteve sua amada Rachel. A maior parte dos filhos, nascidos na juventude de Jacob, eram de Lia ou das concubinas, só dois foram filhos de seu grande amor, Rachel: José e Benjamin.
Como os irmãos quase sempre eram filhos de mães diferentes, não se tornavam muito amigos. Eram divididos em grupos; e o grupo mais fraco era o composto pelos filhos de Rachel: José e Benjamin, por serem os mais moços. Os outros invejavam principalmente a José, devido sua inteligência e capacidade de decifrar sonhos, um certo dom sobrenatural. Passando por sua terra, uma caravana comercial, em direção ao Egito, os filhos mais velhos de Jacob, resolveram livrarem-se de José e o venderam, como escravo aos mercadores. Para enganarem o Pai de que José havia morrido, mataram um animal, e com seu sangue embeberam roupas de José. Jacob acreditou e lamentou imensamente a morte do filho, que era o preferido, com muito pranto e longo luto. José, em chegando ao Egito, foi vendido como escravo, como auxiliar de cozinha no Palácio do Vizir do Faraó. Lá ficou famoso pois interpretava os sonhos de funcionários e até do próprio Vizir (uma espécie de grão-chanceler do Faraó). O Faraó estava atormentado por sonhos estranhos, os célebres, das sete vacas magras e sete vacas gordas, das sete espigas fracas e sete espigas fortes etc.
O Vizir sabendo do estupor de seu senhor, o Faraó, aconselha-o a ouvir o escravo hebreu, chamado José. E José, como todos sabem, interpretou os sonhos do Faraó, como setes anos de fartura, que seriam seguidos por setes de fome, aconselhando o Faraó a estocar grãos, nos setes anos de fartura, para enfrentar os setes anos de fome. Aconteceu exatamente o que o “pseudovisionário” José previra, e o Faraó ficou tão maravilhado, não só com a interpretação dos sonhos, como com todas as atitudes e conselhos de José, que resolveu fazê-lo seu Vizir (isto só foi possível, porque as Dinastias dos Faraós, desta época, não eram Dinastias autenticamente egípcias, mas dos invasores hicsos, que, por sinal, eram também semitas; os Faraós autenticamente egípcios eram profundamente xenófobos). Nesta época em que José é Vizir do Faraó, acontece à visita ao Egito de seus irmãos, menos, Benjamin, à procura de alimentos, pois a terra em que viviam (Corredor Sírio-Palestiano), passava por terrível seca. José reconhece os irmãos, mas estes não o reconheceram, pois José se desenvolvera fisicamente e se ataviava à moda egípcia e própria da sua hierarquia, com tinturas, brocados, mantos e jóias. Foi então aí, que Deus pôs à prova as virtudes de José: amor e perdão! Ele não se deu a conhecer logo, mas, com perguntas, ficou sabendo que seu velho pai Jacob, ainda vivia, e que tinha ficado, em suas terras, com o filho caçula Benjamin. Exigiu, para ajudá-los, que voltassem à terra natal e buscassem, Jacob e Benjamin. Enfim, como todos conhecem, com idas e vindas, e dinheiro que aparecia nas bolsas das mulas dos irmãos, com acusações de serem ladrões, enfim, depois de todos estes castigos, José deu-se a conhecer, já na presença do Pai e do irmão Benjamin. José, com o poder que detinha no Egito, poderia ter-se vingado dos irmãos maldosos, poderia tê-los escravizado e até matá-los. Mas não, foi fiel ao espírito do Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob, e perdoou-os e fê-los virem morar no Egito.
Foi no Egito, que as tribos dos descendentes dos filhos de Jacob desenvolveram-se e tornaram-se verdadeiramente uma Nação: a Nação de Israel a única monoteísta do mundo da época, do povo de Deus. Foi no Egito, que quando as Dinastias verdadeiramente egípcias recuperaram o poder, expulsando os hicsos, a Nação de Israel foi escravizada, porque voltou o xenofobismo. Foi no Egito, finalmente, que nasceu Moisés, que libertou seu povo do jugo egípcio, mas isso só aconteceu graças a José ter sido fiel a mais esta Prova de Deus.
IV
Os Hebreus ou Judeus foram morar no Egito, na época das Dinastias Hicsas, de Faraós que não eram egípcios. Dinastias XIII, XIV, XV e XVI. Dinastias de origem semítica, como os hebreus, daí a tolerância não xenofóbica. José e seus irmãos, filhos de Jacob, edificaram a nação hebréia ou israelita, em solo egípcio. Seus descendentes, apesar do meio ambiente egípcio, e que era forte, não perderam a sua língua materna, seus costumes, tradições e principalmente sua religião, aquela do Deus Verdadeiro, Javé, “Aquele que é”. Não foi, nem será: É, ontem hoje, amanhã e sempre, desde toda a Eternidade. Fenômeno sócio-político-religioso que só poderia mesmo acontecer com o Povo de Deus. Entretanto, por volta de 1400 a.C., a última Dinastia Hicsa é vencida pela XVII Dinastia autenticamente egípcia, descendente das antigas Dinastias do Antigo e Médio Império. Essa XVII Dinastia vai reconstruir o verdadeiro Egito e naturalmente restabelecer a xenofobia e portanto escravizando “todos os não egípcios, e entre eles o povo de Israel (Hebreus ou Judeus)”. Por duzentos anos o Povo de Deus sofrerá a escravidão egípcia, até o surgimento de Moisés. A Prova que Deus prepara agora, para salvar Seu povo, não será só de Moisés, mas também do povo todo, como um “totum”. Moisés tinha sido criado por uma Princesa egípcia, filha do Faraó, e se julgava egípcio. Circunstâncias ocorreram, as mais estranhas, que levaram Moisés a saber, de sua verdadeira raça, a hebréia; inclusive assassina um soldado egípcio que maltratava escravos de seu povo. Por isso, é exilado, e vai morar na Península do Sinai, onde se casa e constitui família. É lá que ele recebe a primeira Revelação de Deus, que o ordena que volte ao Egito e liberte Seu povo. Moisés não duvida da Prova de Deus que se lhe está sendo imposta, mas argumenta com o Senhor, que lhe parece impossível convencer e vencer o Faraó de libertar o povo hebreu, e ainda põe esse obstáculo: eu não falo bem, sou gago. Deus lhe responde, que seu irmão Aarão falará por ele e que Ele, o Deus de Israel, aquele “Eu Sou” estará em sua companhia. Se lhe perguntarem quem lhe deu essa incumbência, ele deveria responder: “Eu Sou”, aqui me mandou vir para libertar Seu Povo.
Moisés separou-se de sua família e voltou ao Egito. Entrou em contato com sua gente e advertiu do que iria acontecer. Aqui temos a Prova de Deus em relação ao povo, pois a grande maioria creu na revelação de Deus a Moisés, principalmente quando ele e seu irmão Aarão foram falar ao Faraó e o ameaçar dos castigos que Deus infligiria ao Egito e quando estas pestes castigaram duramente o povo egípcio, e não aos hebreus. Foram sete pestes que, como sabemos, culminaram, com a terrível sétima peste, a qual eliminou da face da Terra, pela morte, a todos os primogênitos, desde o filho mais velho do Faraó, e primogênitos de todo o povo, e também, os primogênitos dos animais dos egípcios, excetuando-se o povo hebreu e seus animais. O anjo da morte respeitava as casas marcadas com o sangue de um animal sacrificado ao Deus de Israel.
Uma outra grande Prova que Deus impôs a Moisés e ao povo Hebreu, foi a travessia do Mar Vermelho, na saída do Egito. Quarenta anos, esse povo perambulou pelo deserto do Sinai guiados por Moisés, em direção à Terra Prometida, a Terra de Canaã. Durante esses quarenta anos, muitas outras Provas de Deus, foram impostas a Moisés e ao povo. É justo que se diga que o Taumaturgo Moisés, foi justo e fiel em todas as Provas, o que nem sempre aconteceu com o povo, que tinha o coração duro, como diz a Bíblia. Quando o povo reclamou de fome e sede, duvidando de Deus, apesar de terem sido testemunhas e protagonistas de todas as maravilhas, as pragas que dobraram o poder do Faraó e a fantástica travessia do Mar Vermelho, Moisés não duvidou e rogando “Àquele que É”, Seu auxílio, veio o maná e do deserto brotou água fresca.
No Monte Sinai, Moisés recebe de Deus os Dez Mandamentos (o mais perfeito Código de Leis que o mundo jamais conheceu, pois teve como autor o próprio Senhor). E quando desce a Montanha, com a fisionomia transfigurada pois vira Deus “face a face”, e no pé da montanha encontra seu povo, a adorar ídolos egípcios e a se banquetear, inclusive com a adesão de seu irmão Aarão, completamente esquecidos de sua identidade de “o Povo de Deus”, “Aquele que é, do Eu Sou”.
Moisés apesar de não ter tido culpa, do que aconteceu, enfurecido quebra as Tábuas Sagradas, mas como o responsável pelo povo de Deus, Esse castigou-o com uma última Prova, da qual ele não pode livrar-se. Foi de longe que ele avistou a Terra Prometida, pois Deus levou-o ao Seio de Abraão. (Antes, entretanto, lhe concedera novamente as pedras com os Dez Mandamentos).
v
Deus castigou Moisés, privando-o de chegar à Terra Prometida, devido às defecções de seu povo, do qual, ele era o responsável. Moisés morreu, vendo, de longe, a conquista de sua Terra, pelo seu general e sucessor, Josué. A Terra não estava desabitada, e sim povoada por vários povos, como os próprios Cananeus, os moabitas, os filisteus, os fenícios e muitos outros. Nas primeiras batalhas, Moisés, ainda vivo, do cimo de uma montanha, via e abençoava a Josué e seus guerreiros. Enquanto ele mantinha os braços elevados, abençoando-os, os israelitas, comandados por Josué, obtinham vitória; quando ele baixava os braços, por cansaço, os seus exércitos eram derrotados. Isso ficou tão evidente, que, dois auxiliares de Josué foram incumbidos de segurarem os braços de Moisés, que caiam pelo cansaço. Essa foi a última Prova de Deus a Moisés, antes de conduzi-lo ao “Seio de Abraão” (É preciso que aqui seja assinalado algo muito importante: Por que “Seio de Abraão”? Esse é o nome que é dado, pela Sagrada Escritura, ao lugar para onde se dirigiam os justos, após a morte, uma espécie de Limbo. Por que não, o Céu? Porque, por causa do Pecado Original, todos os justos que morriam, apesar de serem justos, não tinham sido redimidos ainda, pelo sangue do Cordeiro de Deus, (Agnus Dei) Jesus, o Filho de Deus, o Verbo de Deus, que se fazendo Homem, pode apagar os pecados dos homens, pela sua morte de Cruz, homens do passado, do presente em que Ele veio ao mundo, e do futuro. Por isso, no “Credo” é dito: “ foi crucificado, morto e sepultado, desceu à Mansão dos Mortos, ressuscitou ao Terceiro Dia, etc...” Essa “Mansão dos Mortos” é o “Seio de Abraão”, para onde se dirigiu o Filho de Deus, para liberá-los e conduzi-los ao Céu, após Sua Morte de Cruz. Alguns teólogos chegam a afirmar que até S. José, que morrera bem antes de seu Filho nutrício, estava também lá, esperando a Redenção; portanto Moisés também lá se encontrava, e não no Céu).
VI
Com a morte de Moisés, Josué foi vencendo os povos que habitavam a Terra Prometida, e tornou-se, como sucessor de Moisés, o chefe, o Dirigente do Povo de Deus. Mas Josué também morreu e então, o povo dividiu-se. As doze Tribos dos doze filhos de Jacob foram ocupando as terras já conquistadas, É a época, chamada dos Juizes, onde salientaram-se Sansão, Débora, Gedeão, etc... que também foram submetidos a Provas de Deus, mas de menor vulto.
Por volta do XI século a.C., um dos Juizes, que também era Profeta , chamado Samuel, foi consultado pelos outros Juizes e pelo povo em geral, se não seria melhor para eles, (que estavam divididos em tribos, e que portanto eram, às vezes, derrotados separadamente pelos inimigos), se unirem todos, tendo um Rei para comandá-los, como tinham os outros povos. Samuel irritou-se profundamente com essa sugestão, pois explicou-os que o Rei deles era o próprio Deus de Israel, “Aquele que É”, o Único e Verdadeiro Deus. Responderam que sabiam disso, mas que precisavam de um Rei de carne e osso, que os unisse e comandasse seus exércitos, e propunham a Coroa ao próprio Samuel. Esse, depois de acusá-los de infiéis, de homens de coração duro, de ingratos a Javé, acabou cedendo. Mas, não queria a Coroa. Ele era um Profeta um Homem de Deus, e não podia cuidar das coisas dos homens. Que o Rei de Israel seria escolhido pelo próprio Senhor Deus. E para isso, para saber quem deveria sagrar Rei de Israel, Samuel, rezou muito, fez muita penitência e jejum. Essa foi a grande Prova de Deus a Samuel. Finalmente, ele recebeu de Deus a indicação. O Rei deveria ser Saul. Samuel sagrou, ungiu com azeite e coroou Saul (cerimônia essa que serviu de protótipo a todas as coroações de Reis e Imperadores judeus e cristãos, desde aquela época até hoje). Saul, de fato, solucionou o grande problema do povo hebreu. Com as tribos reunidas em um só Estado, foi mais fácil vencer os inimigos. Pode-se dizer que Samuel e Saul foram os fundadores do Reino de Israel (não da Nação de Israel, que já tinha sido constituída, desde a escravidão no Egito, mas do Estado de Israel, Reino politicamente organizado, sim).
O poder entretanto subiu à cabeça de Saul e ele passou a não mais ouvir os conselhos de Samuel, sem entretanto deixar de respeitá-lo, como o Homem de Deus. Uma prova disso, consiste na seguinte passagem. Saul estava preparado para combater os filisteus, mas não partia para o combate, sem antes, receber a Benção do Profeta e assistir seu ritual sacrificando ao Deus de Israel (o que hoje seria a Missa). Mas Samuel não aparece (havia morrido e Saul não sabia). Os generais impetuosos, querem assim, mesmo, iniciar o combate, e argumentam com Saul, que talvez Samuel fosse um falso Profeta. Ouvem essa resposta do Rei: “Se Samuel é um falso Profeta, eu sou um falso Rei”.
A partir desse momento tem início à decadência do Reinado de Saul e a ascensão de David. Samuel, antes de morrer, tinha recebido de Deus a missão de ungir Rei de Israel, a um filho de Jessé. Samuel visita Jessé, que tinha muitos filhos homens, e lá, Deus lhe indica para ungir o jovem pastor David o mais jovem dos filhos de Jessé. A partir daquele momento David era o “Rei de Direito de Israel embora Saul continuasse a ser o” Rei de Fato “. Saul entra em depressão com a morte de Samuel, e um de seus filhos descobre o pequeno David, que além de pastor, era poeta e músico, para com as palavras e a lira (os Salmos) socorresse o pai doente. David dá nova vida a Saul e com o tempo, e principalmente com o episódio de sua vitória sobre Golias, o herói e gigante filisteu, David cresce em prestígio, no povo de Israel. Quando ele chegava das batalhas o povo bradava: “Saul venceu mil inimigos, David 10 vezes mil”. David tornou-se o Condestável de Israel (embora soubesse que era Rei, mas não ousava combater Saul, pois esse era também ungido do Senhor) e casou-se mesmo com a filha de Saul, sua primeira esposa. Saul, enciumado pelo prestigio de David, tenta matá-lo. David foge de seus perseguidores e essa é grande Prova de Deus a David. Ele sabe que é rei, ungido pelo Profeta, mas Saul também fora ungido e portanto David não Vai contra seu sogro. Essa Prova de Deus, podemos chamá-la de “Fidelidade Àquilo que era sagrado”. A unção era como se fosse um Sacramento. Logo sagrada e David a respeita, foge da perseguição de Saul, e deixa (já que ele também fora ungido) nas mãos de Deus, o seu futuro. Em batalha contra filisteus Saul e sua progênie masculina é toda eliminada pelo inimigo. David entra triunfante em Jerusalém, como Rei de Israel. Tinha sido fiel a Saul, até o fim, nunca levantou a espada contra seu Rei, o ungido do Senhor, embora ele também o fosse, e assim mereceu ser o Grande Rei David, cuja descendência reinou séculos em Israel e depois em Judá. Mas a sua maior glória ele não a conheceu em vida. Foi dele, de sua descendência, que Deus escolheria uma santíssima Virgem para ser a Mãe do Filho de Deus, e a colocaria sob a guarda de um também Santo Homem “José ben David” (São José, também descendente de David), para a Redenção da Humanidade.
VII
O Rei, Profeta e salmista, David, teve muitos filhos, de várias mulheres, mas, quem herdou o seu trono foi o filho de seu maior pecado, o futuro Rei, Salomão. Por que o seu maior pecado? David já tinha sido casado várias vezes (na época a Lei de Deus permitia, como já explicamos, em capítulo anterior, principalmente no caso de um Rei). Entretanto, apaixonou-se loucamente por Bertsabeth, pois a tinha visto nua, a banhar-se, embora, de longe, mulher de grande beleza, porém casada. E casada com Urias, general de seus exércitos, que nem judeu era, e sim hitita, mas que daria a vida por seu Rei, pois amava David, como seu Rei. David, perfidamente, manda o Comando em Chefe designar Urias para o Comando do “Front”, na frente de seus exércitos, em guerra.
O que David pretendia, de fato, acontece, Urias morre em combate. E Bertsabeth está viúva e portanto livre para casar-se com David. Deste casamento nasceu Salomão, o que, por várias circunstâncias herdará o trono (são muitas vezes, intangíveis os caminhos do Senhor) e se tornará, pela morte do Pai, o grande Rei Salomão. Esse Rei, que teve grandes momentos em seu longo reinado, momentos de glórias e de riquezas, momentos de vitórias militares e momentos de grandes pecados, até mesmo a idolatria, esse grande Rei, passou por uma terrível Prova de Deus. Prova essa, da qual ele se saiu muito bem, Prova de Justiça, e que, por causa disso, até hoje, alude-se “à justiça salomônica”, quando um Processo de Direito consegue fazer Justiça, entre partes litigantes . Duas mulheres compareceram à frente do Rei, com uma criança ainda pequena, e as duas mulheres alegavam ser a mãe verdadeira da criança. Salomão com a calma e sobriedade de um Rei e Juiz, ordena a seus ajudantes: “cortem a criança ao meio e dêem metade para cada uma”, diante de tal ordem, uma das mulheres grita, em desespero, e clama: “podem dar a criança a ela, mas não a matem! Salomão, imediatamente diante desse gesto, reconhece a verdadeira mãe, e determina que a ela, a que impedira a morte da criança, lhe fosse entregue a criança. Deus pôs à Prova a Inteligência e a Justiça do Rei!
Deus também pôs Salomão à Prova na fidelidade a Ele. Houve momentos, principalmente os momentos de glórias e riquezas que, como já dissemos, Salomão, tentado pelo dinheiro pela vanglória, adorou outros deuses, ídolos de outros povos, ou seja, adorou o demônio. Mas veio depois o arrependimento e a penitência e Salomão voltou a ser fiel ao Deus de Israel, “Aquele que É”.
FIM.